segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Dr. Walter T. P. Wolston

 
Dr. Walter T. P. Wolston
(1840-1917)

Walter Thomas Prideaux Wolston nasceu em 6 de setembro de 1840 em Brixham (condado Devonshire na Inglaterra). Segundo ele próprio disse, durante os primeiros vinte anos de sua vida estava interessado apenas nas coisas desse mundo, embora tivesse sido o primeiro desejo de sua mãe que aceitasse o Senhor Jesus como Senhor e Salvador. Depois de seu tempo escolar, começou a trabalhar na condição de advogado em
sua cidade natal. Tinha consciência do fato de que ele era um pecador perdido, mas, apesar de diversas indicações da parte de Deus, não as levava a sério para se voltar a Deus.

Durante uma das suas muitas pregações feitas mais tarde como evangelista, descreve a sua conversão experimentada na idade de 20 anos ("Seekers for Light", página 267). No dia 4 de dezembro de 1860, ele deixou a sua terra no interior de Devonshire, para continuar os seus estudos de direito. Pretendia voltar de visita para casa nos dias de Natal, para participar numa noite mundana de diversão e de concerto musical. Porém, havia de acontecer diferente. No primeiro domingo dele em Londres, atendendo à insistência de sua mãe por carta e a um convite de um companheiro de quarto, assistiu a uma pregação do evangelho do mineiro e evangelista Richard Weaver, que naquela noite anunciava a mensagem da graça de Deus ante uma audiência de 3.000 pessoas no teatro de Surrey. Embora T. P. Wolston tivesse sido convencido de seu estado pecaminoso e perdido naquela noite, ele pensava que não podia se converter baseado no testemunho de uma pessoa tão simples e inculta, já que ele era um erudito. Durante a semana que se seguia, leu muito na Palavra de Deus e orava bastante. No domingo seguinte, foi a outra evangelização, onde o conhecido evangelista Charles Stanley estava falando, a quem conhecia ainda por causa de uma visita que esse fizera na casa de seus pais quando ele ainda era criança. Chegou a ter uma profunda consciência de seu culpa de pecado. Depois de uma hora, teve uma conversa com Charles Stanley e um jovem cristão e, pelo versículo de Tiago 2:19, chegou a ser completamente quebrantado: "Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o crêem, e estremecem". Veio a ter clareza e certeza da sua fé por meio da palavra: "Ninguém pode servir a dois Senhores". Dois dias depois escreveu ao líder e dirigente daquela noite de diversão que agora chegou a ter fé no Senhor Jesus e que o Senhor pusera um novo cântico em sua boca. Disse que queria cumprir com a sua obrigação contratual, mas poderia cantar apenas do Redentor que fizera tanto por Ele. É quase desnecessário dizer que foi desobrigado de sua obrigação sem maiores problemas. Amava agora o evangelho com todo o seu coração. Independente do assunto sobre qual falava aos cristãos, nunca terminava sem falar da grande salvação de Deus.

Depois de um estudo da medicina, o jovem Dr. Wolston recebeu no ano de 1864 a clara impressão que o Senhor o havia chamado ao serviço dEle na Escócia. Embora tivesse recebido uma oferta lucrativa, saiu de Londres e foi a  Edinburgh, onde foi empregado como cirurgião no Hospital Antigo. Mais tarde, ele se estabeleceu como médico geral na capital escocesa. Logo chegou a ter um grande número de pacientes. A sua personalidade era caracterizada por um talento extraordinário e grande graça de tal maneira, que de forma geral foi reconhecido como uma médico capacitado, bondoso e cristão. Sempre encontrou tempo em seu movimentado consultório, para passar adiante a boa nova da salvação em Cristo; durante o seu tempo livre, anunciava o evangelho em recintos que alugava para essa finalidade. Teve uma influência especial nos jovens e por isso, muitas vezes, fez preleções sobre assuntos espirituais para os estudantes em Edinburgh.

Durante mais que 45 anos, Walter T. P. Wolston publicou a revista evangelística "God's Glad Tidings" ("A Alegre Mensagem de Deus") — mais tarde intitulado "The Gospel Messenger" ("O Mensageiro do Evangelho"). Além disso escreveu muitos livretos evangelísticos. Algumas de sua pregações foram mais tarde publicadas em forma de livro. Neles, o estilo cativante de suas pregações, mas também o seu conhecimento das Escrituras e amor pela verdade têm sido conservados. Por volta de uma dúzia de volumes sempre de novo têm sido reeditados. Alguns dos títulos mais conhecidos são: "Simão Pedro", "Do Egito a Canaã", "Cenas Noturnas das Sagradas Escrituras", "Homens Jovens das Sagradas Escrituras" e outros mais. Também por meio desse ministério de escritos, Walter T. P. Wolston veio a ser uma bênção para milhares de crentes.

Junto à sepultura de John Nelson Darby, ele era um dos oradores além de Clarence Esme Stuart e Charles Stanley. Por ocasião da divisão causada por F. E. Raven, ele acompanhou Raven, ao contrário de seu irmão C. Wolston. Em 1908, ele era um dos líderes entre o grupo, que se separou do caminho errante de Raven, conhecido pelo nome de Glanton. O seu escrito "Hear the Right" ("Ouvi o Certo") dá testemunho do fato de que reconheceu claramente de como o caminho de Raven, continuado por J. Taylor, era errado.

No ano de 1909, renunciou a seu consultório de médico e permaneceu de visita prolongada na Austrália e Nova Zelândia. Então fez duas visitas a Noruega. Durante a sua segunda visita adoeceu e ficou de repente totalmente paralítico em fevereiro de 1915. Teve que ser levado de volta a Weston-Super-Mare, onde ficou preso à cama durante o espaço de dois anos, totalmente desamparado fisicamente. Durante todo esse tempo em um estado de desamparo físico, Walter T. P. Wolston era sempre feliz no amor de seu Salvador e nunca se ouvia alguma queixa ou murmurações de sua boca. Poucas semanas antes de seu fim, teve mais um derrame, que fez com que estivesse insensível por tudo que acontecia à sua volta. Para a sua esposa, que amorosamente cuidava dele, era, porém, bem claro, que estava em comunhão contínua e ininterrupta com o seu Senhor, a quem amava e tinha servido fielmente durante tanto tempo. No dia 11 de março de 1917, esse devoto servo foi chamado ao lar junto de seu Senhor.

George Vicesimus Wigram

 
George Vicesimus Wigram
(1805 - 1879)

George Vicesimus Wigram era o vigésimo filho de Sir Robert Wigram, um rico comerciante de Londres. É disso que resulta o seu segundo nome em latim que em português quer dizer "vigésimo". Ele nasceu no 1805. Enquanto ainda jovem, ingressou no exército britânico. Foi provavelmente por volta do ano de 1824 que chegou a se converter e em 1826 deixou o serviço militar, para estudar teologia no colégio "Queen's College" em Oxford. Na sua condição de filho de um pai rico, ele teve algumas características especiais de que tomaram nota os seus colegas de estudos. Assim ele era o único estudante que tinha como ter uma charrete fechada; por outro lado, teve o costume de esfregar um manto novo tanto tempo na parede até que tivesse aparência de usado. Também era conhecido pelo fato de possuir um coração aberto e elevadas forças intelectuais.

Na sua condição de estudante, teve contato com James Lampden Harris e Benjamin Wills Newton em Oxford, e mais tarde, no ano de 1830, também com John Nelson Darby. Mais ou menos um ano depois, George Vicesimus Wigram se separou da Igreja Anglicana e mudou-se, juntamente com B. W. Newton, para Plymouth. De sua considerável fortuna, sem mais nem menos, G. V. Wigram comprou ali uma capela, a Providence Chapel na rua Raleigh, onde então cada noite houve preleções sobre assuntos bíblicos. Durante uma visita de John Nelson Darby, os irmãos ali começaram a partir o pão. Assim se formou ali a primeira "assembléia" na Inglaterra. Um traço bastante notável e conhecido dos crentes reunidos ali conforme os pensamentos de Deus era, que se separaram de tudo que consideraram ser mundano, seja de livros, vestimenta e móveis. Essas ofertas voluntárias foram juntadas em tal quantia que era necessário vendê-los em leilão público. O que faz esse caso de Plymouth tão impressionante é que a assembléia agia em unanimidade e também a maneira sincera e convicta em que aconteceu esse abandono do mundo.

Embora George Vicesimus Wigram passasse a maioria do tempo em Plymouth, pouco tempo depois surgiu também uma assembléia em Londres por meio dele. Naqueles anos, G. V. Wigram se dedicou principalmente a uma tarefa especial, ou seja à compilação de concordâncias bíblicas, que haviam de servir como ajuda àqueles que possuíam pouco ou nenhum conhecimento das línguas hebraica ou grega. Ele financiou esses empreendimentos de sua considerável fortuna, embora ele mesmo dissesse em grande modéstia, que "apenas passou por minhas mãos". No ano de 1839 foi publicada "The Englishman's Greek Concordance of the New Testament" ("A Concordância Grega do Leitor Inglês referente ao Novo Testamento") e em 1843 "The Englishman's Hebrew and Chaldee Concordance of the Old Testament" ("A Concordância Hebraica e Aramaica do Leitor Inglês referente ao Antigo Testamento"). Os dois volumes, desde então, sempre têm sido republicados e foram úteis e de bênção para inúmeros estudantes das Escrituras Sagradas. Assim essa obra de G. V. Wigram se constituiu em um serviço relevante para toda a Igreja de Deus até em nossos dias.

George Vicesimus Wigram era um fiel amigo de John Nelson Darby e seu companheiro durante muitas viagens. Na questão de Bethesda nos anos de 1845 a 1850 estava firme ao lado dele. A sua sinceridade e lealdade nunca têm sido questionadas.

Era editor da revista "The Present Testimony" ("O Testemunho Atual") nos anos 1849 a 1873 (uma revista sucessora da primeira revista dos irmãos intitulada "The Christian Witness" — "O Testemunho Cristão"). Nela publicou diversos de seus escritos que, mais tarde, foram publicados em cinco volumes (a última edição em inglês por H. L. Heijkoop, Winschoten). Quando por volta de 1873 o testemunho florescente das igrejas diminuiu por causa de diversas influências, ele desistiu da edição dessa revista. Sentiu que os irmãos não correspondiam mais ao chamado de Deus. Certa vez mencionou: "Nós tínhamos de buscar a verdade de joelhos em oração perpétua, mas hoje pode ser comprada por um preço barato".

Já no ano de 1838 ele compilou um hinário sob o título "Hymns for the Poor of the Flock" ("Hinos para os Pobres do Rebanho"; compare Zacarias 11:7). Pelo fato de circular também outros hinários, George Vicesimus Wigram recebeu em 1856 o convite de se ocupar detalhadamente com esse assunto. Disso surgiu um novo hinário sob o título "A Few Hymns and Some Spiritual Songs Selected 1856" ("Alguns Hinos e Cânticos Espirituais Selecionados 1856"). Esse, então, foi usado de forma geral até que, em 1881, sob liderança de John Nelson Darby, foi revisado e ampliado mais uma vez. De forma modificada esse hinário ainda hoje está sendo usado nos países de fala inglesa. Alguns hinos bonitos contidos nele são de autoria de G. V. Wigram.

Durante o tempo por volta de 1850, George Vicesimus Wigram visitava os grupos de crentes que haviam surgido em decorrência do trabalho de William Darby e Julius Anton von Poseck na Renânia (região na Alemanha) em diversas localidades (Benrath, Hilden, Haan, Ohligs, Rheydt e Kettwig). Também fazia visitas mais prolongadas nos últimos anos de sua vida na Nova Zelândia, nas ilhas do Caribe etc. Por todos os lados o seu ministério foi bastante apreciado. Sempre era seu alvo servir somente a Cristo. No dia 1 de janeiro de 1879 o Senhor o tomou para consigo.

Hermanus Cornelis Voorhoeve

 
Hermanus Cornelis Voorhoeve 
(1837- 1901)

Hermanus Cornelis Voorhoeve, nascido em 9 de fevereiro de 1837 em Rotterdam, era descendente de uma respeitada família aristocrática. O seu pai era sócio num empreendimento de finanças e bancário. Hermanus Cornelis Vorrhoeve era o mais velho entre sete filhos. Dois de seus irmãos, mais tarde, se casaram com filhos de Carl Brockhaus, Elberfeld: a sua irmã Lena (1850 - 1901) se tornou a esposa de Ernst Brockhaus (1848 - 1915), e o seu irmão Dr. Nicolaas Anthony Johannes (1854 - 1922), um médico homeopata, em 1881, se casou com Emilie Brockhaus.

A família Voorhoeve vivia na época do movimento de reavivamento neerlandês, e assim os filhos foram criados na disciplina e exortação do Senhor. Já em anos de idade tenra, Hermanus Cornelis Voorhoeve falava muitas vezes com o seu pai sobre a Palavra de Deus e coisas divinas. Foi por isso que amadureceu o desejo no pai de deixar o seu filho estudar teologia. Porém, após ter concluído o ginásio, Hermanus Cornelis Voorhoeve não mostrou interesse nessa profissão, embora tivesse grandes talentos, porque sentia que lhe faltava a mais importante condição para o ministério de pregação — a nova vida em Cristo. Assim começou a trabalhar no banco de seu pai.

Pouco tempo de pois, com 19 anos, chegou a crer e aceitou a Jesus como o seu Salvador e Senhor. Deixou o negócio do pai. O que faria gora? Teve contato com vários escritos traduzidos do inglês e francês da autoria de John Nelson Darby, os quais leu diligentemente e comparou o escrito com as Sagradas Escrituras. Chegou à convicção, que os verdadeiros crentes devem se separar das igrejas e comunidades existentes, para celebrarem a Ceia do Senhor com base na doutrina bíblica da Unidade do Corpo de Cristo (1 Co 12:13; Ef 4:4) somente com aqueles que confessam ser cristãos renascidos. Entendeu também que para o ministério da Palavra bastam as Sagradas Escrituras e os dons conferidos à Sua Igreja (ecclésia) da parte do Senhor glorificado e que não há necessidade de ofícios eclesiásticos e de ordinações. Hermanus Cornelis Voorhoeve tomou a única decisão possível para si: aderiu a um grupo de irmãos que recém haviam começado a se reuir conforme a Palavra de Deus em Rotterdam. Juntos examinaram as Sagradas Escrituras e os escritos dos irmãos do exterior, principalmente da Inglaterra. Aprenderam mais e mais a entender o que significa a obra de Cristo para os crentes e que diferença há entre a posição, as bênçãos e a esperança de Israel e da Igreja de Deus respectivamente; entenderam que a esperança dos crentes verdadeiros é a vinda do Senhor antes da grande tribulação etc. Além disso, foi despertado nesses irmãos o desejo de anunciar às pessoas perdidas ao seu redor o evangelho. Dessa forma, Hermanus Cornelis Voorhoeve, recém completado 20 anos, começou a anunciar as alegres novas nas vielas e cortiços da cidade de Rotterdam. Para o seu pai, que desejou outra carreira para o seu filho mais velho, isso era grande desgosto ainda mais aumentado pelo fato de que a sua esposa também aderiu àquela pequena congregação em Rotterdam. Ela era um grande apoio para o seu filho ricamente dotado no caminho e ministério dele.

Já no ano de 1858, Hermanus Cornelis Voorhoeve, de 20 anos, começou com a edição da revista mensal "Bode des Heils in Christus" (Mensageiro da Salvação em Cristo) ainda existente hoje. Os primeiros números continham principalmente artigos traduzidos do inglês, francês ou alemão, mas também já apareceram artigos procedentes da pena de Hermanus Cornelis Voorhoeve.

Nesse mesmo ano, viajou pela primeira vez a Elberfeld, para conhecer ali Carl Brockhaus e os demais irmãos. Ali ele foi estimulado a seguir viagem até a Silésia, onde encontrava portas abertas para o evangelho. Muitas pessoas chegaram a crer e surgiu um bom número de igrejas locais. Nos anos subseqüentes, visitou centenas de lugares nos Países Baixos, na Suíça, na Alemanha, Bélgica, França e na Inglaterra. Em toda parte, muitas pessoas chegaram a crer e encontraram paz com Deus.

Entrementes, no dia 26 de novembro de 1863, Hermanus Cornelis Voorhoeve casou-se com Sophia Katharina Hermine Linde de Aschaffenburg; ela chegou a crer por meio de sua pregação no ano 1861. Era uma mulher dedicada ao serviço do Senhor juntamente com o seu marido, e lhe era uma grande auxiliadora tanto por meio de encorajamento e conselhos como também pelas suas visitas aos doentes e outros atos de caridade. Doze filhos procederam desse casamento. O filho mais velho, Dr Jacob Voorhoeve (1865 - 1937) se tornou médico homeopata em Dillenburg; o quarto, Johannes Nicolaas Voorhoeve (1873 - 1948), pisou nas pegadas de seu pai nos Países Baixos e se tornou o seu sucessor espiritual. Por causa da fraca saúde da esposa e mãe e de freqüente necessidade material, a família havia de sofrer e suportar muitas coisas.

Em Rotterdam, Hermanus Cornelis Voorhoeve já havia iniciado o seu trabalho editorial com a publicação da revista mensal. Logo apareceram volumes individuais, entre eles também o livro traduzido para o alemão "A Volta de Nosso Senhor Jesus Cristo e os Aconteceimentos Coligados" (1869). No ano 1871 publicou o hinário "Bundel Geestelijke Liederen" usado até hoje numa edição ampliada e revisada. Muitos dos hinos eram de sua própria autoria, um bom número traduziu segundo os textos de Carl Brockhaus e Julius Anton von Poseck [no hinário alemão "Kleine Sammlung geistlicher Lieder", o número 130 — "Du hast uns lieb", número 14 do hinário português "Hinos Espirituais" com o título "Tu amas-nos" (este hinário pode ser adquirido pela editora DLC - Depósito de Literatura Cristã, Diadema) — é dele]. No ano 1876 mudou-se para Den Haag, Dunne Bierkade 16 (nos fundos dessa casa, mais tarde, foi construído o salão de reuniões ainda em uso hoje*). Ali, Hermanus Cornelis Voorhoeve continuou as suas atividades de escritor e editor. Os livros mais conhecidos dele devem ser os seus estudos sobre as epístolas do apóstolo Paulo. Nos anos 1869 e 1870, morou por alguns meses com a sua família em Colônia, para trabalhar na tradução do Velho Testamento para o alemão junto com John Nelson Darby e Carl Brockhaus. Essa tradução do Velho Testamento foi publicado em 1871 junto com o Novo Testamento sob o nome de "Elberfelder Bibel". Em dezembro de 1877, Hermanus Cornelis Voorhoeve publicou uma própria tradução do Novo Testamento para o holandês após dois anos de trabalho. Ele se baseou num texto grego editado e corrigido por John Nelson Darby.

Hermanus Cornelis Voorhoeve também continuou ativo no campo evangelístico. Publicou uma revista infantil e livros para crianças e além disso, a cada 15 dias, também uma revista evangelística "De Blijde Boodschap" ("A Alegre Nova") continuada até hoje. Também escreveu um grande número de folhetos. A sua revista semanal "Timóteo" se destinava em especial às famílias e a salvos jovens. Essa revista se tornou famosa muito além da comunhão dos "irmãos". Além disso, esse servo do Senhor que trabalhou incansavelmente, se engajava de forma especial pelas númerosas escolas cristãs características pelos Países Baixos.

No verão de 1901, a sua esposa faleceu, que já há algum tempo vinha adoentada. Alguns dias depois de seu sepultamento, Hermanus Cornelis Voorhoeve decidiu viajar a seu filho mais velho, o médico, em Dillenburg, para ali permitir descanso e recuperação a seu corpo bastante enfraquecido. Porém, depois de uma melhora inicial, o seu estado piorou constantemente de tal forma que os seus parentes próximos foram convocados a seu leito de enfermidade. No dia 21 de agosto de 1901, três semanas após a sua esposa, ele dormiu. Por diversas vezes exclamou perto de seu fim as palavras de um hino holandês: "Oh, estar ali ... oh, ali estás Tu!" As suas últimas palavras foram: "Feliz! Quão feliz!"


Georg von Viebahn

 
Georg von Viebahn
(1840-1915)

Georg von Viebahn era descendente de uma família que em 1728 havia sido posto entre a nobreza pelo Rei Friedrich Wilhelm I da Prússia. Muitos oficiais do exército e funcionários públicos vieram dessa família. Nasceu em 15 de novembro de 1840 em Arnsberg, Westfalen. Fez o "Abitur"(1) na cidade de Oppeln, capital da província da Silésia Superior, onde o pai dele era governador. Desejava se tornar soldado seguindo a uma tradição familiar. Da parte de seus pais, Georg von Viebahn havia sido educado dentro da igreja do estado, ou seja a Igreja Luterana. Já na idade de 15 anos, ele se converteu à fé viva no Senhor Jesus pela cooperação de um amigo crente com quem brincava. Quando, então, começou a sua carreira militar depois do exame final escolar em 1859 num Regimento da Guarda em Berlim, o seu primeiro pedido de oração foi que se evidenciasse como um fiel discípulo do Senhor. Após a sua formação e promoção a tenente, participou das três guerras da unificação alemã nos anos de 1864, 1866 e 1870 / 71 com condecoração.

No ano de 1869, Georg von Viebahn conheceu a sua futura esposa no estado alemão de Hesse. Cristina Ankersmit era a filha de um próspero comerciante holandês. No dia 14 de maio de 1872, o casamento ocorreu em Amsterdã. Juntamente, os dois examinaram diligentemente a Palavra de Deus. A sua esposa conheceu já em sua juventude cristãos na Inglaterra que se reuniam conforme a maneira dos primeiros cristãos ao Nome do Senhor Jesus. Também em Wiesbaden, localidade de sua primeira residência comum, se reuniam juntamente com um grupo desses irmãos, tendo o simples desejo de "perseverar na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações" (Atos 2:42).

Como capitão, Georg von Viebahn estava estacionado primeiramente em Wiesbaden até o ano de 1878, onde nasceram a sua filha mais velha Christa e três outros filhos. Em 1878, ele foi transferido para Hannover, onde recebeu a sua promoção a major em 1879. No final do ano de 1883, ele foi nomeado comandante da Escola Militar Real em Engers am Rhein. Foi ali, que em 3 de fevereiro de 1884 a sua esposa faleceu logo após o nascimento de seu sexto filho. Três anos mais tarde, Georg von Viebahn casou-se com Marie Ankersmit, a irmã mais nova de sua primeira esposa. Nesse casamento havia três filhos. No ano de 1888, Georg von Viebahn foi promovido a tenente coronel e transferido para Frankfurt am Main. Mais um ano depois, ele foi chamado na função de coronel e comandante de um regimento para Trier. A sua última estação foi Stettin; para lá foi transferido já major general e comandante de uma brigada de infantaria no ano de 1893.

Desde a sua juventude era o desejo desse homem sério servir também na sua profissão ao seu Senhor, a quem amava, confessá-Lo diante dos homens e encontrar irmãos que amavam e confessavam ao Senhor Jesus assim como ele. Foi especialmente afligido pelo fato que havia largamente leviandade e pobreza espiritual entre o corpo de oficiais do exército. Contudo tinha contato com alguns oficiais crentes como tenente coronel Curt von Knobelsdorff, que estava responsável pela prevenção do alcoolismo. Embora muitas vezes tivesse que suportar escárnios e zombarias quando confessava o seu Senhor, ainda assim tentou servir e ajudar aos seus colegas e subordinados em temor a Deus e com coragem de confessar o Senhor. Como comandante da escola militar, ele deixou escrever diversos versículos bíblicos nas paredes, como por exemplo: "Prepara-se o cavalo para o dia da batalha, porém do SENHOR vem a vitória" (Provérbios 21:31). A sua primeira obra maior e visível foi a fundação de um asilo cristão para soldados, que deixou construir durante o tempo de comandante de um regimento em Trier por conta dele mesmo. Um desejo especial de seu coração se voltou, porém, para a salvação dos centenas de milhares de jovens que anualmente foram integrados ao serviço militar obrigatório. Assim ele decidiu, confiante no Senhor, editar uma revista semanal de conteúdo evangelístico para distribuição entre as tropas que lhe eram subordinadas.

No dia 1 de outubro de 1895 apareceu numa edição de 5.000 exemplares o primeiro número da revista sob o título "Pregações para Soldados", a partir do segundo ano intitulado de "Testemunhos de um Velho Soldado aos seus Camaradas". Deus abençoou esses pequenos e silenciosos mensageiros, que durante o espaço de 21 anos cresceram a 1.100 números e uma edição final de 150.000 a 170.000 exemplares. Também fora do exército esses testemunhos foram espalhados em forma de folhetos e foram até mesmo traduzidos para diversos idiomas.

Depois que o Senhor lhe dera esse extenso ministério, a que se acrescentaram ainda várias viagens em serviço verbal no evangelho, mais e mais se ocupou com a pergunta, se deveria retirar-se por completo do exército, para dedicar toda a sua força ao serviço do Senhor. Além desse trabalho, já antes lhe veio à mente o pensamento se ele deveria renunciar a sua profissão de soldado na sua condição de um cristão que tinha consciência de sua posição e chamado celestiais. Na primavera do ano de 1896, Georg von Viebahn percebeu nitidamente que agora havia chegado o momento em que deveria retirar-se do exército. Depois desse passo importante, ainda continuou morando em Stettin.

Agora se colocaram mais tarefas diante de Georg von Viebahn. Começou, primeiramente em Berlim, e então também em outras cidades onde havia guarnições, a fazer pregações do evangelho para oficiais do exército grandemente abençoadas. A partir de 1899 publicou a revista "espada e Escudo" com o alvo de não somente levar a Palavra de Deus aos oficiais ainda longe de Deus, mas também exercer um ministério pastoral para aqueles que já eram crentes. Logo acrescentava a essa revista uma folhinha devocional que continha estudos sucintos seqüenciais. Essas folhinhas, porém, logo superaram a tiragem da própria revista "Espada e Escudo" devido ao fato que também foram lidas em muitas casas e famílias. Incansavelmente, Georg von Viebahn trabalhava na obra do Senhor no lugar que lhe foi dado. Quando estava de viagem para pregar o evangelho, estava ativo durante o dia no ministério verbal; de noite, quando os seus anfitriões dormiam, muitas vezes trabalhava ainda durante horas nas revistas. Além dessas, publicou ainda diversos escritos avulsos, principalmente sobre a prática da vida cristã, cujos mais conhecidos devem ser: "Noivado e Matrimônio dos Crentes à Luz da Palavra de Deus" e "O Matrimônio dos Crentes à Luz da Palavra de Deus". Digno de ser mencionado também é o escrito: "O que encontrei com cristãos que se reúnem somente ao Nome de Jesus" (de 1902) — resposta a uma série de artigos na revista "Sons do Sábado" voltada contra "J. N. Darby e a Igreja".

Georg von Viebahn também estava regularmente presente nas conferências de estudo bíblico dos irmãos em Elberfeld, Dillenburg e Berlim. Em uma dessas reuniões, certa vez interrompeu um irmão que estava aludindo afirmativamente a uma exposição dele e o chamava de "Senhor General", com voz gentil , porém alta e clara: "Deixe o General para trás, e faça o irmão marchar à frente!".

Ainda na idade avançada, Georg von Viebahn podia exercer o ministério no evangelho e edificação dos crentes com boa saúde e frescor de espírito. Até o final de sua vida ficava firme na sua confissão do caminho estreito da separação. Em seu coração nunca esqueceu aquilo que comprovava também em seu trabalho, que estava unido com todos os membros do Corpo de Cristo. O seu biógrafo Emil Dönges escreve: "Não podia ser evitado que parecia estreito demais para alguns crentes e liberal demais a outros". O seus próprios desejos e esforços eram ter um coração largo no caminho estreito e confirmá-lo na prática. Obviamente intencionado por esse desejo, participava sempre de novo nas conferências da aliança evangélica em Blankenburg — embora acontecessem num fundamento não bíblico, conforme ele próprio confessou —, mas pensava ter ali a oportunidade de saudar muitos cristãos como irmãos e poder servi-los com a preciosa Palavra de Deus. Quanto ao seu próprio posicionamento com respeito a aliança evangélica, ele escreveu em 1910 a um amigo:

"Não sou membro da aliança evangélica e, como confio, nunca o serei. Nunca vi a aliança evangélica, que se baseia em uma aliança de diversas igrejas e comunidades cristãs, como uma solução divina para a unidade desejada dos crentes. Reconheço que esses esforços produziram lá e cá bênção pela fidelidade daqueles que a apóiam, mas a aliança evangélica não tem base bíblica. Por isso não falo de aliança, mas sim da unidade do Corpo existente em Cristo em feita por Deus. Essa grande verdade da unidade do Corpo de Cristo, daquela uma comunidade ou assembléia de Jesus, é uma verdade desconhecida por muitos crentes, embora o Espírito Santo a tivesse novamente trazido à luz há mais ou menos 60 anos."

No decorrer dos anos, o Senhor abriu mais e mais as portas para Georg von Viebahn de poder servir na palavra para os crentes. Era um desejo especial seu de apresentar-lhes não apenas os sublimes privilégios na sua condição de filhos de Deus, mas também inculcar nos corações de tomar uma posição em contraste com os filhos desse mundo em piedade e num andar fiel. Também esse ministério não era em vão; por muitos tem sido reconhecido e produziu ricamente frutos.

Durante a Primeira Guerra Mundial em 1914 a 1918, dois filhos morreram na frente. Essas perdas atingiram bastante esse homem sentimental. Embora as suas forças estavam diminuindo, ainda acreditava que podia continuar o seu ministério. Porém, no ano de 1915, foi comprovado que estava seriamente  doente. No dia 15 de dezembro de 1915, o Senhor chamou o Seu servo para o descanso do povo de Deus. Georg von Viebahn foi sepultado ao lado de sua esposa em Engers. Muitos amigos e conhecidos presenciaram o culto funeral em Berlim; em Engers, o seu amigo Emil Dönges falou na capela do cemitério e Rudolf Brockhaus junto da sepultura do falecido.
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(1) Exame final do segundo grau nas escolas da Alemanha até hoje; pode ser comparado a um vestibular, pois o resultado desse exame determina a aptidão do aluno para poder cursar a universidade ou não — Nota do tradutor.


William Trotter

 
William Trotter
(1818 - 1865)

William Trotter pertencia aos primeiros irmãos em Yorkshire. Nasceu no ano de 1818. Já na idade de 12 anos, encontrou a paz com Deus pelo ministério de um pregador metodista, William Dawson (conhecido na região norte da Inglaterra como "Billy Dawson"). Começou a pregar na idade de 14 anos e com 19 anos foi instituído pregador da Comunidade Metodista Reformada. Inicialmente, trabalhava em Halifax, mais tarde em York. Ali o seu serviço foi para grande bênção; muitas pessoas vieram a crer. Porém, William Trotter começou já cedo a esbarrar em diversas coisas erradas na comunidade metodista. Por um lado havia a grande lacuna entre "clérigos" e "leigos", que aumentava cada vez mais. Cada vez com mais veemência também se reivindicava o reconhecimento de certas confissões de fé. Com vistas à vida prática, William Trotter se voltou especialmente contra a obsessão pelas riquezas, por outro lado também contra a forma organizada de caridade, e insistia em que cada crente pessoalmente é responsável por aquilo que o Senhor lhe confiara, para usá-lo em favor da família, dos irmãos e de todos os necessitados.

Enquanto William Trotter trabalhava visivelmente abençoado, entre outras coisas também durante um despertamento em Halifax, os líderes daquele grupo metodista decidiram transferi-lo para uma comunidade em Londres, que se encontrava em um estado de pobreza espiritual e cujo número de membros estava cada vez minguando mais. Ele, porém, não atendeu a essa "promoção", porque entrementes havia reconhecido como é terrível e contra as Escrituras os seres humanos colocarem-se entre o servo em seu trabalho e Deus. Por isso renunciou a seu ofício de pregador em Bradford.

No início da década dos 40 do século dezenove, ele teve contato com os irmãos e logo estava ativo na assembléia em Halifax. Conheceu a John Nelson Darby e se tornou um de seus amigos mais fiéis. Na questão de Bethesda estava firmemente de seu lado; o seu livreto "The Whole Case of Plymouth and Bethesda" ("O Caso Completo de Plymouth e Bethesda"; mais tarde o título foi mudado para "A Origem dos tais chamados Irmãos Abertos") se tornou famoso. Certa vez, William Trotter foi profundamente impressionado pelo que John Nelson Darby lhe disse: "O mistério da paz interior e da força exterior é ocupar-se com o bem, sim, sempre ocupar-se com aquilo que é bom".

Durante alguns anos, William Trotter era o editor da pequena revista "The Christian Brethren's Journal and Investigator", presumivelmente o sucessor da revista "The Christian Witness", (editado de 1849 a 1873 em Londres por G. V. Wigram). Contribuiu também com uma série de artigos para a revista conhecida, editada por William Kelly, "The Bible Treasury" ("O Tesouro da Bíblia"). William Trotter, porém, se tornou bem conhecido por meio de seus livros extraordinários sobre profecia "Eight Lectures on Prophecy" ("Oito Preleções sobre Profecia" ) e "Plain  Papers on  Prophetic Subjects" ("Escritos Simples e Claros sobre Assuntos Proféticos"). Dignos de serem considerados são também os seus "Cinco Cartas sobre Adoração e Ministério no Espírito", publicadas em português sob o título "O Espírito Santo operando na Igreja" (DLC — Depósito de Literatura Cristã, Diadema / SP — Brasil). Apareceram também na revista alemã "Botschafter des Heils in Christo" ("Mensageiro da Salvação em Cristo"), volume do ano 1867 sob o título "Pensamentos sobre o Culto e o Ofício do Espírito Santo". Já fizemos alusão a seu escrito sobre a origem dos "irmãos abertos".

O ministério de William Trotter foi apreciado por todos os lados. Era um homem amoroso, bondoso e meigo, e Deus podia lhe dar a sua confirmação. W. B. Neatby diz a respeito dele em sua "História dos Irmãos" que "todos que o conheciam, falavam dele com mais estima e apreço do que de quase qualquer outros irmãos dos 'irmãos de Plymouth'".

Na idade de 47 anos, no ano de 1865, William Trotter foi chamado ao lar. A sua morte, por muitos, foi considerada uma grande perda. Era, juntamente com Dr. Thomas Neatby, um dos poucos que vieram dos metodistas e ocuparam um lugar de destaque entre os irmãos.

Clarence Esme Stuart


Clarence Esme Stuart
(1828 - 1903)

Clarence Esme Stuart era descendente de uma família bastante respeitada e era o filho mais novo de William Stuart. Seu avô, de igual nome, William Stuart, era arcebispo de Armagh e teve a confiança especial do Rei George III. A família descendia de uma linha lateral da antiga casa real dos Stuart da Escócia. Alguns vêem em Clarence Esme Stuart até uma semelhança com Charles I. A sua mãe era uma das cortesãs da Rainha Adelaide enquanto essa era também Duquesa de Clarence. Ela era madrinha dele e por isso também portava o nome de Clarence.

Clarence Esme Stuart nasceu em 1828 em Sandy. Conforme a tradição da família, foi educado em Eton (um colégio famoso vizinho do castelo Windsor, sede da família real da Inglaterra e colégio de educação da alta nobreza inglesa). Depois foi ao Colégio St. John em Cambridge, onde terminou os seus estudos de literatura e teologia com o grau de MA (Master of Arts — mestre em ciências humanas).

A sua mãe, com amor, sempre havia indicado a necessidade da conversão a Clarence Esme Stuart. Por causa disso, ainda bastante jovem, já havia dado esse passo espiritual da morte para a vida. Desde então, tinha sempre um interesse especial nas coisas espirituais e teve aparentemente o intuito de ocupar um cargo eclesiástico na Igreja Anglicana — igreja a que pertencia a sua família. Porém, aparentemente uma grave falha de fala impedia isso, embora nunca fosse notável quando orava.

Depois de ter casado com uma filha do Coronel Cunninghame de Ayrshire, ele se estabeleceu em Reading. Ali se ocupava com atividades evangelísticas dentro da igreja. Entre outras coisas, promoveu a atividade da "British and Foreign Bible Society" ("Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira").

Por volta do ano de 1860, Clarence Esme Stuart ficou atento à posição daqueles cristãos que comumente eram chamados de "Irmãos de Plymouth", embora eles mesmo tivessem sempre rejeitado tal designação. Na cidade de Reading havia uma grande congregação, em cujo meio se encontrava também William Henry Dorman, anteriormente pregador oficial, que se chegara aos irmãos já em 1840. Por meio de sua influência, Clarence Esme Stuart logo se convenceu que a sua filiação à Igreja Anglicana era inaceitável. Sem muito alarido, ele ocupou o seu lugar na assembléia de Reading. Durante muitos anos permaneceu ali.

Mas já nos anos 1864 - 1866 a amizade entre William Henry Dorman e Clarence Esme Stuart foi duramente provada. John Nelson Darby tinha esteriorizado pensamentos sobre os sofrimentos de Cristo, que foram duramente criticados por W. H. Dorman, e postos no mesmo nível das doutrinas de Benjamin Wills Newton. Este também foi o motivo pelo qual se separou dos irmão. Clarence Esme Stuart, com seus conhecimentos profundos das línguas antigas, que podiam ser decisórias em questões doutrinárias assim tão difíceis, se colocou ao lado de John Nelson Darby. Até o falecimento desse, ele continuou em estreita comunhão com ele; era um dos irmãos que falavam na ocasião de seu enterro.

Sem dúvida, Clarence Esme Stuart fazia parte dos grandes mestres entre os irmãos. Publicou diversas dissertações e livros sobre questões críticas quanto ao texto bíblico tanto do Antigo como do Novo Testamento. Na área de interpretações críticas quanto ao texto grego do Novo Testamento, ele tendia mais à escola dos conhecidos crentes cultos de Tregelles do que aos de Scrivener.

C. E. Stuart era também colaborador constante da revista "Words in Season" ("Palavras a seu Tempo").

Escreveu uma série de estudos sobre os evangelhos de Marcos, Lucas e João, sobre os Atos dos Apóstolos e o livro dos Salmos. Vale a pena mencionar também os estudos sobre os sacrifícios, a Igreja de Deus e as relações do crente para com Deus. Uma das últimas dissertações de sua autoria portava o título: "Devemos seguir aos Críticos?". Nela, C. E. Stuart se posicionou contra as doutrinas da tal chamada "crítica superior" quanto ao Antigo Testamento. Demonstrava assim, que até o fim não precisava temer o confronto com os eruditos errantes de sua época. A sua biblioteca continha todas as obras principais modernas sobre ciências bíblicas, mas também algumas obras bastante antigas, entre elas uma edição da Poliglota Complutensiana (uma edição bíblica multilíngüe impressa em 1514 na Espanha que contém os textos em latim, grego e hebraico). Essa edição, ele doou à biblioteca de seu colégio quando tinha já uma idade avançada.

Como expositor das Escrituras, Clarence Esme Stuart sempre se apegava estreitamente ao texto sagrado, porque era plenamente convicto de sua inspiração verbal. Basicamente não atentava para fontes externas como as exposições dos "Pais da Igreja" ou ainda da teologia moderna. Devido a seu claro e neutro discernimento, ele representava e defendia com grande diligência as verdades redescobertas sobre a Igreja de Deus e os acontecimentos proféticos. À semelhança de Frederick William Grant, comentários doutrinários que iam um pouco além, causaram em 1885 uma precipitada separação entre os irmãos que podia ser sanada após algumas décadas. Em anos posteriores, C. E. Stuart pisou em terreno perigoso devido a comentários sobre a obra de redenção de Cristo, porque tentou detalhar a obra do Senhor de forma intelectual e queria explicá-la principalmente por meio das figuras do Antigo Testamento.

Clarence Esme Stuart era uma pessoa de grande simplicidade quanto a sua aparência. Por meio de seu jeito amável de ser, ele ganhou principalmente os corações dos "miseráveis do rebanho", pois era cheio de bondade para com eles. Era a alegria dele compartilhar com eles a luz que recebera. Ele pertence aqueles que, embora tenham morrido, ainda continuam falando. Foi chamado ao lar em 1903 na idade de 80 anos.
 

James Butler Stoney


James Butler Stoney
(1814 - 1897)

James Butler Stoney nasceu no dia 13 de maio de 1814 em Portland, no condado de Tipperary (Irlanda). Seu pai era um puritano severo. A família levava uma vida sossegada e sem preocupações. Todos os quatro filhos foram ensinados por professores particulares.

Na idade de 15 anos, James Butler Stoney, inteligente e dotado, foi freqüentar o famoso Trinity College em Dublin, onde se especializava nos idiomas clássicos e em direito. Embora tivesse sido alertado quanto à graça de Deus e à necessidade de uma conversão durante esse tempo, o jovem ambicioso e ocupado com diversões não encontrou tempo para analisar essa questão. Os seus pensamentos estavam voltados para o seu futuro êxito profissional como jurista.

No ano de 1831, em Dublin havia um surto de cólera. Também James Butler Stoney adoeceu. O seu primeiro pensamento então era: "Como posso me encontrar com um Deus santo?" Os seus sofrimentos de alma eram piores do que os físicos. Chamou um servo, para que esse fosse chamar o médico, e disse: "Thomas, acredito que devo morrer". Quando estava novamente sozinho, ele se lançou sobre o seu rosto e clamou àquele Deus, de quem já ouvira falar enquanto ainda era menino, e que havia aceitado até o maior dos pecadores, porque o Crucificado está à destra dEle. Quando o médico chegou, J. B. Stoney realmente estava exausto e parecia estar perto da morte, porém disse com bastante calma: "Jesus me receberá. Senhor Jesus, receba o meu espírito". Por meio de uma sono profundo e salutar, ele foi recomposto. Logo podia continuar os seus estudos, mas nascera de novo, para um mundo novo, para esperanças novas e uma vida nova. Decidiu renunciar ao estudo do direito, para de então em diante ser uma testemunha da graça de Deus em favor de pecadores perdidos.

Começou, então, a estudar teologia em Dublin, onde, nessa época, havia realmente professores excelentes. Na idade de 24 anos recebeu a ordenação de clérigo. A família dele se irritou bastante com isso. Um de seus tios não queria mais contato algum com ele, porque pensava que teria jogado fora os seus talentos naturais e perspectivas esperançosas por um salário de pastor.

Nos últimos quatro anos, James Butler Stoney estudara as Sagradas Escrituras com grande zelo. Reconheceu que todas as coisas visíveis são passageiras e que apenas as coisas invisíveis são eternas. Quando lia as epístolas de Paulo, descobriu que o próprio Senhor ressurreto e glorificado concede os dons para o serviço na Igreja, de forma que o crente em conformidade com a sua tarefa se torna ou um evangelista, um pastor ou mestre (instrutor) — veja Efésios 4. Por isso, J. B. Stoney não aguardava por uma colocação profissional de pastor, mas foi como evangelista pelos caminhos e valados, para indicar aos pecadores a grande salvação de Deus.

Já no ano de 1833, James Butler Stoney tivera contato com os irmãos que estavam se reunindo há alguns anos em Dublin, inicialmente numa residência particular em Fitzwilliam Square, n° 9 e desde o ano de 1830 num salão de leilões de um produtor de móveis em Aungier Street, n° 11. Num comunicado interessante datando do dia 12/07/1871 ele mesmo escreve sobre aqueles dias:

"Conheci os irmãos em 1833. Tive o ardente desejo de servir ao Senhor e tinha renunciado à carreira de jurista em favor de um estudo teológico. Pensei que isso fosse a única coisa certa. Inicialmente fui a Aungier Street com sentimentos de oposição. Sr. Clarke, um colega de estudos, me levava até ali. Ele era ali um assistente permanente...Finalmente cheguei a ter um grande interesse nos ensinos de lá. Lembro-me de forma especial de exposição do Sr. Darby sobre as palavras: 'agradáveis no amado' e do sr. Bellet sobre Marcos 7, mas ainda não pensei em juntar-me a eles...Ouvia constantemente o sr. Darby até que em certa ocasião falou sobre Josué 7: 'Por que estás prostrado assim sobre o teu rosto?...Levanta-te, santifica o povo...'. Primeiro o mal tem que ser removido. Deus não pode estar conosco, se não estivermos separados do mal. Foi então que desabei. Pela primeira vez ficou claro para mim que passo enorme é deixar a igreja do estado em favor de um pequeno grupo sem aparência em Aungier Street. Foi em junho de 1834. Pedi a sr. Darby de poder vir até que encontrasse algo melhor, porque não tinha plena certeza se ele estava certo, mas tive a convicção de que a Igreja Anglicana estava posicionada de forma errada. Durante aquele tempo, o sr. Stokes costumava ler a cada domingo um trecho das Sagradas Escrituras e em Plymouth, onde estive no ano de 1838, se costumava escalar de antemão quem havia de partir o pão e exercer atos públicos. Em setembro, participei numa reunião no castelo de Lady Powerscourt. O sr. John Synge teve a presidência. Sr. Synge pediu a todos um a após outro que falassem sobre um assunto determinado. O sr. Darby foi o último a falar, muitas vezes durante horas, e entrava em detalhes de todos os assuntos abordados anteriormente. Ao lado dele estavam sentados o sr. Wigram e Capitão Hall, sr. G. Curzon, Sir A. Campbell, sr. Bellet, sr. T. Maunsell, sr. Mahon, sr. E. Synge...As reuniões de oração às 7 da manhã me impressionaram de forma especial. Cada um orava, para que Deus lhes desse luz, mas também a graça de agir nos conformes...".

Depois de ter tomado o seu lugar permanente com os irmãos em 1834, James Butler Stoney continuou sendo um bom amigo de John Nelson Darby durante toda a sua vida e estava ligado intimamente a ele até à morte dele em 1882. Nas primeiras décadas trabalhava mais retirado. Escreveu artigos para diversas revistas, entre outras na década de 40 para "The Prospect" ("A Perspectiva"), cujo editor era William Kelly nos anos de 1849 a 1850. A partir de 1867, ele mesmo era editor da revista "A Voice to the Faithful" ("Uma Voz aos Fieis").

James Butler Stoney viajava muito e falava quase todos os dias em algum lugar. Ele tinha um jeito vivo e impressionante de falar, mas evitava cuidadosamente qualquer aparência de retórica. Era convicto de que o Espírito Santo é o verdadeiro e único poder nas coisas sagradas. O seu livro até traduzido para o alemão "A Educação na Escola de Deus" se tornou bastante conhecido.

Em contraste com os demais mestres do tempo do início, James Butler Stoney não enfatizava tanto o lado objetivo da verdade de Deus, mas mais o lado subjetivo da verdade, onde os sentimentos pessoais ocupam uma parte grande e por vezes há o perigo de pensamentos especulativos. Quanto a isso, quase se tornou um místico (a mística é uma forma especial de religiosidade, onde o ser humano procura chegar a uma comunhão profunda e íntima com Deus por meio de dedicação e meditação). Por isso ele se tornou inconscientemente o preparador de caminho para a aceitação das heresias de F. E. Raven, que esse começou a pregar por volta de 1890. Em 1890, isso levou a uma separação, e muitas assembléias locais na Inglaterra foram levadas por Raven inclusive os irmãos J. B. Stoney, C. H. Mackintosh e Dr. W. T. P. Wolston.

James Butler Stoney foi chamado ao lar no dia 1 de maio de 1897, pouco antes de seu aniversário de 83 anos. Já em outubro de 1895, ele estava preso a seu quarto por causa de uma doença séria. Até o fim continuou a sua alegria em Deus e faleceu tranqüilamente, falando dEle. Gostava de citar a estrofe de um hino:
'Tis the treasure I found in His love
that has made me a pilgrim below.'
('É o tesouro que encontrei em Seu amor,
que me fez ser um peregrino aqui em baixo.')

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