segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Dr. Walter T. P. Wolston

 
Dr. Walter T. P. Wolston
(1840-1917)

Walter Thomas Prideaux Wolston nasceu em 6 de setembro de 1840 em Brixham (condado Devonshire na Inglaterra). Segundo ele próprio disse, durante os primeiros vinte anos de sua vida estava interessado apenas nas coisas desse mundo, embora tivesse sido o primeiro desejo de sua mãe que aceitasse o Senhor Jesus como Senhor e Salvador. Depois de seu tempo escolar, começou a trabalhar na condição de advogado em
sua cidade natal. Tinha consciência do fato de que ele era um pecador perdido, mas, apesar de diversas indicações da parte de Deus, não as levava a sério para se voltar a Deus.

Durante uma das suas muitas pregações feitas mais tarde como evangelista, descreve a sua conversão experimentada na idade de 20 anos ("Seekers for Light", página 267). No dia 4 de dezembro de 1860, ele deixou a sua terra no interior de Devonshire, para continuar os seus estudos de direito. Pretendia voltar de visita para casa nos dias de Natal, para participar numa noite mundana de diversão e de concerto musical. Porém, havia de acontecer diferente. No primeiro domingo dele em Londres, atendendo à insistência de sua mãe por carta e a um convite de um companheiro de quarto, assistiu a uma pregação do evangelho do mineiro e evangelista Richard Weaver, que naquela noite anunciava a mensagem da graça de Deus ante uma audiência de 3.000 pessoas no teatro de Surrey. Embora T. P. Wolston tivesse sido convencido de seu estado pecaminoso e perdido naquela noite, ele pensava que não podia se converter baseado no testemunho de uma pessoa tão simples e inculta, já que ele era um erudito. Durante a semana que se seguia, leu muito na Palavra de Deus e orava bastante. No domingo seguinte, foi a outra evangelização, onde o conhecido evangelista Charles Stanley estava falando, a quem conhecia ainda por causa de uma visita que esse fizera na casa de seus pais quando ele ainda era criança. Chegou a ter uma profunda consciência de seu culpa de pecado. Depois de uma hora, teve uma conversa com Charles Stanley e um jovem cristão e, pelo versículo de Tiago 2:19, chegou a ser completamente quebrantado: "Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o crêem, e estremecem". Veio a ter clareza e certeza da sua fé por meio da palavra: "Ninguém pode servir a dois Senhores". Dois dias depois escreveu ao líder e dirigente daquela noite de diversão que agora chegou a ter fé no Senhor Jesus e que o Senhor pusera um novo cântico em sua boca. Disse que queria cumprir com a sua obrigação contratual, mas poderia cantar apenas do Redentor que fizera tanto por Ele. É quase desnecessário dizer que foi desobrigado de sua obrigação sem maiores problemas. Amava agora o evangelho com todo o seu coração. Independente do assunto sobre qual falava aos cristãos, nunca terminava sem falar da grande salvação de Deus.

Depois de um estudo da medicina, o jovem Dr. Wolston recebeu no ano de 1864 a clara impressão que o Senhor o havia chamado ao serviço dEle na Escócia. Embora tivesse recebido uma oferta lucrativa, saiu de Londres e foi a  Edinburgh, onde foi empregado como cirurgião no Hospital Antigo. Mais tarde, ele se estabeleceu como médico geral na capital escocesa. Logo chegou a ter um grande número de pacientes. A sua personalidade era caracterizada por um talento extraordinário e grande graça de tal maneira, que de forma geral foi reconhecido como uma médico capacitado, bondoso e cristão. Sempre encontrou tempo em seu movimentado consultório, para passar adiante a boa nova da salvação em Cristo; durante o seu tempo livre, anunciava o evangelho em recintos que alugava para essa finalidade. Teve uma influência especial nos jovens e por isso, muitas vezes, fez preleções sobre assuntos espirituais para os estudantes em Edinburgh.

Durante mais que 45 anos, Walter T. P. Wolston publicou a revista evangelística "God's Glad Tidings" ("A Alegre Mensagem de Deus") — mais tarde intitulado "The Gospel Messenger" ("O Mensageiro do Evangelho"). Além disso escreveu muitos livretos evangelísticos. Algumas de sua pregações foram mais tarde publicadas em forma de livro. Neles, o estilo cativante de suas pregações, mas também o seu conhecimento das Escrituras e amor pela verdade têm sido conservados. Por volta de uma dúzia de volumes sempre de novo têm sido reeditados. Alguns dos títulos mais conhecidos são: "Simão Pedro", "Do Egito a Canaã", "Cenas Noturnas das Sagradas Escrituras", "Homens Jovens das Sagradas Escrituras" e outros mais. Também por meio desse ministério de escritos, Walter T. P. Wolston veio a ser uma bênção para milhares de crentes.

Junto à sepultura de John Nelson Darby, ele era um dos oradores além de Clarence Esme Stuart e Charles Stanley. Por ocasião da divisão causada por F. E. Raven, ele acompanhou Raven, ao contrário de seu irmão C. Wolston. Em 1908, ele era um dos líderes entre o grupo, que se separou do caminho errante de Raven, conhecido pelo nome de Glanton. O seu escrito "Hear the Right" ("Ouvi o Certo") dá testemunho do fato de que reconheceu claramente de como o caminho de Raven, continuado por J. Taylor, era errado.

No ano de 1909, renunciou a seu consultório de médico e permaneceu de visita prolongada na Austrália e Nova Zelândia. Então fez duas visitas a Noruega. Durante a sua segunda visita adoeceu e ficou de repente totalmente paralítico em fevereiro de 1915. Teve que ser levado de volta a Weston-Super-Mare, onde ficou preso à cama durante o espaço de dois anos, totalmente desamparado fisicamente. Durante todo esse tempo em um estado de desamparo físico, Walter T. P. Wolston era sempre feliz no amor de seu Salvador e nunca se ouvia alguma queixa ou murmurações de sua boca. Poucas semanas antes de seu fim, teve mais um derrame, que fez com que estivesse insensível por tudo que acontecia à sua volta. Para a sua esposa, que amorosamente cuidava dele, era, porém, bem claro, que estava em comunhão contínua e ininterrupta com o seu Senhor, a quem amava e tinha servido fielmente durante tanto tempo. No dia 11 de março de 1917, esse devoto servo foi chamado ao lar junto de seu Senhor.

George Vicesimus Wigram

 
George Vicesimus Wigram
(1805 - 1879)

George Vicesimus Wigram era o vigésimo filho de Sir Robert Wigram, um rico comerciante de Londres. É disso que resulta o seu segundo nome em latim que em português quer dizer "vigésimo". Ele nasceu no 1805. Enquanto ainda jovem, ingressou no exército britânico. Foi provavelmente por volta do ano de 1824 que chegou a se converter e em 1826 deixou o serviço militar, para estudar teologia no colégio "Queen's College" em Oxford. Na sua condição de filho de um pai rico, ele teve algumas características especiais de que tomaram nota os seus colegas de estudos. Assim ele era o único estudante que tinha como ter uma charrete fechada; por outro lado, teve o costume de esfregar um manto novo tanto tempo na parede até que tivesse aparência de usado. Também era conhecido pelo fato de possuir um coração aberto e elevadas forças intelectuais.

Na sua condição de estudante, teve contato com James Lampden Harris e Benjamin Wills Newton em Oxford, e mais tarde, no ano de 1830, também com John Nelson Darby. Mais ou menos um ano depois, George Vicesimus Wigram se separou da Igreja Anglicana e mudou-se, juntamente com B. W. Newton, para Plymouth. De sua considerável fortuna, sem mais nem menos, G. V. Wigram comprou ali uma capela, a Providence Chapel na rua Raleigh, onde então cada noite houve preleções sobre assuntos bíblicos. Durante uma visita de John Nelson Darby, os irmãos ali começaram a partir o pão. Assim se formou ali a primeira "assembléia" na Inglaterra. Um traço bastante notável e conhecido dos crentes reunidos ali conforme os pensamentos de Deus era, que se separaram de tudo que consideraram ser mundano, seja de livros, vestimenta e móveis. Essas ofertas voluntárias foram juntadas em tal quantia que era necessário vendê-los em leilão público. O que faz esse caso de Plymouth tão impressionante é que a assembléia agia em unanimidade e também a maneira sincera e convicta em que aconteceu esse abandono do mundo.

Embora George Vicesimus Wigram passasse a maioria do tempo em Plymouth, pouco tempo depois surgiu também uma assembléia em Londres por meio dele. Naqueles anos, G. V. Wigram se dedicou principalmente a uma tarefa especial, ou seja à compilação de concordâncias bíblicas, que haviam de servir como ajuda àqueles que possuíam pouco ou nenhum conhecimento das línguas hebraica ou grega. Ele financiou esses empreendimentos de sua considerável fortuna, embora ele mesmo dissesse em grande modéstia, que "apenas passou por minhas mãos". No ano de 1839 foi publicada "The Englishman's Greek Concordance of the New Testament" ("A Concordância Grega do Leitor Inglês referente ao Novo Testamento") e em 1843 "The Englishman's Hebrew and Chaldee Concordance of the Old Testament" ("A Concordância Hebraica e Aramaica do Leitor Inglês referente ao Antigo Testamento"). Os dois volumes, desde então, sempre têm sido republicados e foram úteis e de bênção para inúmeros estudantes das Escrituras Sagradas. Assim essa obra de G. V. Wigram se constituiu em um serviço relevante para toda a Igreja de Deus até em nossos dias.

George Vicesimus Wigram era um fiel amigo de John Nelson Darby e seu companheiro durante muitas viagens. Na questão de Bethesda nos anos de 1845 a 1850 estava firme ao lado dele. A sua sinceridade e lealdade nunca têm sido questionadas.

Era editor da revista "The Present Testimony" ("O Testemunho Atual") nos anos 1849 a 1873 (uma revista sucessora da primeira revista dos irmãos intitulada "The Christian Witness" — "O Testemunho Cristão"). Nela publicou diversos de seus escritos que, mais tarde, foram publicados em cinco volumes (a última edição em inglês por H. L. Heijkoop, Winschoten). Quando por volta de 1873 o testemunho florescente das igrejas diminuiu por causa de diversas influências, ele desistiu da edição dessa revista. Sentiu que os irmãos não correspondiam mais ao chamado de Deus. Certa vez mencionou: "Nós tínhamos de buscar a verdade de joelhos em oração perpétua, mas hoje pode ser comprada por um preço barato".

Já no ano de 1838 ele compilou um hinário sob o título "Hymns for the Poor of the Flock" ("Hinos para os Pobres do Rebanho"; compare Zacarias 11:7). Pelo fato de circular também outros hinários, George Vicesimus Wigram recebeu em 1856 o convite de se ocupar detalhadamente com esse assunto. Disso surgiu um novo hinário sob o título "A Few Hymns and Some Spiritual Songs Selected 1856" ("Alguns Hinos e Cânticos Espirituais Selecionados 1856"). Esse, então, foi usado de forma geral até que, em 1881, sob liderança de John Nelson Darby, foi revisado e ampliado mais uma vez. De forma modificada esse hinário ainda hoje está sendo usado nos países de fala inglesa. Alguns hinos bonitos contidos nele são de autoria de G. V. Wigram.

Durante o tempo por volta de 1850, George Vicesimus Wigram visitava os grupos de crentes que haviam surgido em decorrência do trabalho de William Darby e Julius Anton von Poseck na Renânia (região na Alemanha) em diversas localidades (Benrath, Hilden, Haan, Ohligs, Rheydt e Kettwig). Também fazia visitas mais prolongadas nos últimos anos de sua vida na Nova Zelândia, nas ilhas do Caribe etc. Por todos os lados o seu ministério foi bastante apreciado. Sempre era seu alvo servir somente a Cristo. No dia 1 de janeiro de 1879 o Senhor o tomou para consigo.

Hermanus Cornelis Voorhoeve

 
Hermanus Cornelis Voorhoeve 
(1837- 1901)

Hermanus Cornelis Voorhoeve, nascido em 9 de fevereiro de 1837 em Rotterdam, era descendente de uma respeitada família aristocrática. O seu pai era sócio num empreendimento de finanças e bancário. Hermanus Cornelis Vorrhoeve era o mais velho entre sete filhos. Dois de seus irmãos, mais tarde, se casaram com filhos de Carl Brockhaus, Elberfeld: a sua irmã Lena (1850 - 1901) se tornou a esposa de Ernst Brockhaus (1848 - 1915), e o seu irmão Dr. Nicolaas Anthony Johannes (1854 - 1922), um médico homeopata, em 1881, se casou com Emilie Brockhaus.

A família Voorhoeve vivia na época do movimento de reavivamento neerlandês, e assim os filhos foram criados na disciplina e exortação do Senhor. Já em anos de idade tenra, Hermanus Cornelis Voorhoeve falava muitas vezes com o seu pai sobre a Palavra de Deus e coisas divinas. Foi por isso que amadureceu o desejo no pai de deixar o seu filho estudar teologia. Porém, após ter concluído o ginásio, Hermanus Cornelis Voorhoeve não mostrou interesse nessa profissão, embora tivesse grandes talentos, porque sentia que lhe faltava a mais importante condição para o ministério de pregação — a nova vida em Cristo. Assim começou a trabalhar no banco de seu pai.

Pouco tempo de pois, com 19 anos, chegou a crer e aceitou a Jesus como o seu Salvador e Senhor. Deixou o negócio do pai. O que faria gora? Teve contato com vários escritos traduzidos do inglês e francês da autoria de John Nelson Darby, os quais leu diligentemente e comparou o escrito com as Sagradas Escrituras. Chegou à convicção, que os verdadeiros crentes devem se separar das igrejas e comunidades existentes, para celebrarem a Ceia do Senhor com base na doutrina bíblica da Unidade do Corpo de Cristo (1 Co 12:13; Ef 4:4) somente com aqueles que confessam ser cristãos renascidos. Entendeu também que para o ministério da Palavra bastam as Sagradas Escrituras e os dons conferidos à Sua Igreja (ecclésia) da parte do Senhor glorificado e que não há necessidade de ofícios eclesiásticos e de ordinações. Hermanus Cornelis Voorhoeve tomou a única decisão possível para si: aderiu a um grupo de irmãos que recém haviam começado a se reuir conforme a Palavra de Deus em Rotterdam. Juntos examinaram as Sagradas Escrituras e os escritos dos irmãos do exterior, principalmente da Inglaterra. Aprenderam mais e mais a entender o que significa a obra de Cristo para os crentes e que diferença há entre a posição, as bênçãos e a esperança de Israel e da Igreja de Deus respectivamente; entenderam que a esperança dos crentes verdadeiros é a vinda do Senhor antes da grande tribulação etc. Além disso, foi despertado nesses irmãos o desejo de anunciar às pessoas perdidas ao seu redor o evangelho. Dessa forma, Hermanus Cornelis Voorhoeve, recém completado 20 anos, começou a anunciar as alegres novas nas vielas e cortiços da cidade de Rotterdam. Para o seu pai, que desejou outra carreira para o seu filho mais velho, isso era grande desgosto ainda mais aumentado pelo fato de que a sua esposa também aderiu àquela pequena congregação em Rotterdam. Ela era um grande apoio para o seu filho ricamente dotado no caminho e ministério dele.

Já no ano de 1858, Hermanus Cornelis Voorhoeve, de 20 anos, começou com a edição da revista mensal "Bode des Heils in Christus" (Mensageiro da Salvação em Cristo) ainda existente hoje. Os primeiros números continham principalmente artigos traduzidos do inglês, francês ou alemão, mas também já apareceram artigos procedentes da pena de Hermanus Cornelis Voorhoeve.

Nesse mesmo ano, viajou pela primeira vez a Elberfeld, para conhecer ali Carl Brockhaus e os demais irmãos. Ali ele foi estimulado a seguir viagem até a Silésia, onde encontrava portas abertas para o evangelho. Muitas pessoas chegaram a crer e surgiu um bom número de igrejas locais. Nos anos subseqüentes, visitou centenas de lugares nos Países Baixos, na Suíça, na Alemanha, Bélgica, França e na Inglaterra. Em toda parte, muitas pessoas chegaram a crer e encontraram paz com Deus.

Entrementes, no dia 26 de novembro de 1863, Hermanus Cornelis Voorhoeve casou-se com Sophia Katharina Hermine Linde de Aschaffenburg; ela chegou a crer por meio de sua pregação no ano 1861. Era uma mulher dedicada ao serviço do Senhor juntamente com o seu marido, e lhe era uma grande auxiliadora tanto por meio de encorajamento e conselhos como também pelas suas visitas aos doentes e outros atos de caridade. Doze filhos procederam desse casamento. O filho mais velho, Dr Jacob Voorhoeve (1865 - 1937) se tornou médico homeopata em Dillenburg; o quarto, Johannes Nicolaas Voorhoeve (1873 - 1948), pisou nas pegadas de seu pai nos Países Baixos e se tornou o seu sucessor espiritual. Por causa da fraca saúde da esposa e mãe e de freqüente necessidade material, a família havia de sofrer e suportar muitas coisas.

Em Rotterdam, Hermanus Cornelis Voorhoeve já havia iniciado o seu trabalho editorial com a publicação da revista mensal. Logo apareceram volumes individuais, entre eles também o livro traduzido para o alemão "A Volta de Nosso Senhor Jesus Cristo e os Aconteceimentos Coligados" (1869). No ano 1871 publicou o hinário "Bundel Geestelijke Liederen" usado até hoje numa edição ampliada e revisada. Muitos dos hinos eram de sua própria autoria, um bom número traduziu segundo os textos de Carl Brockhaus e Julius Anton von Poseck [no hinário alemão "Kleine Sammlung geistlicher Lieder", o número 130 — "Du hast uns lieb", número 14 do hinário português "Hinos Espirituais" com o título "Tu amas-nos" (este hinário pode ser adquirido pela editora DLC - Depósito de Literatura Cristã, Diadema) — é dele]. No ano 1876 mudou-se para Den Haag, Dunne Bierkade 16 (nos fundos dessa casa, mais tarde, foi construído o salão de reuniões ainda em uso hoje*). Ali, Hermanus Cornelis Voorhoeve continuou as suas atividades de escritor e editor. Os livros mais conhecidos dele devem ser os seus estudos sobre as epístolas do apóstolo Paulo. Nos anos 1869 e 1870, morou por alguns meses com a sua família em Colônia, para trabalhar na tradução do Velho Testamento para o alemão junto com John Nelson Darby e Carl Brockhaus. Essa tradução do Velho Testamento foi publicado em 1871 junto com o Novo Testamento sob o nome de "Elberfelder Bibel". Em dezembro de 1877, Hermanus Cornelis Voorhoeve publicou uma própria tradução do Novo Testamento para o holandês após dois anos de trabalho. Ele se baseou num texto grego editado e corrigido por John Nelson Darby.

Hermanus Cornelis Voorhoeve também continuou ativo no campo evangelístico. Publicou uma revista infantil e livros para crianças e além disso, a cada 15 dias, também uma revista evangelística "De Blijde Boodschap" ("A Alegre Nova") continuada até hoje. Também escreveu um grande número de folhetos. A sua revista semanal "Timóteo" se destinava em especial às famílias e a salvos jovens. Essa revista se tornou famosa muito além da comunhão dos "irmãos". Além disso, esse servo do Senhor que trabalhou incansavelmente, se engajava de forma especial pelas númerosas escolas cristãs características pelos Países Baixos.

No verão de 1901, a sua esposa faleceu, que já há algum tempo vinha adoentada. Alguns dias depois de seu sepultamento, Hermanus Cornelis Voorhoeve decidiu viajar a seu filho mais velho, o médico, em Dillenburg, para ali permitir descanso e recuperação a seu corpo bastante enfraquecido. Porém, depois de uma melhora inicial, o seu estado piorou constantemente de tal forma que os seus parentes próximos foram convocados a seu leito de enfermidade. No dia 21 de agosto de 1901, três semanas após a sua esposa, ele dormiu. Por diversas vezes exclamou perto de seu fim as palavras de um hino holandês: "Oh, estar ali ... oh, ali estás Tu!" As suas últimas palavras foram: "Feliz! Quão feliz!"


Georg von Viebahn

 
Georg von Viebahn
(1840-1915)

Georg von Viebahn era descendente de uma família que em 1728 havia sido posto entre a nobreza pelo Rei Friedrich Wilhelm I da Prússia. Muitos oficiais do exército e funcionários públicos vieram dessa família. Nasceu em 15 de novembro de 1840 em Arnsberg, Westfalen. Fez o "Abitur"(1) na cidade de Oppeln, capital da província da Silésia Superior, onde o pai dele era governador. Desejava se tornar soldado seguindo a uma tradição familiar. Da parte de seus pais, Georg von Viebahn havia sido educado dentro da igreja do estado, ou seja a Igreja Luterana. Já na idade de 15 anos, ele se converteu à fé viva no Senhor Jesus pela cooperação de um amigo crente com quem brincava. Quando, então, começou a sua carreira militar depois do exame final escolar em 1859 num Regimento da Guarda em Berlim, o seu primeiro pedido de oração foi que se evidenciasse como um fiel discípulo do Senhor. Após a sua formação e promoção a tenente, participou das três guerras da unificação alemã nos anos de 1864, 1866 e 1870 / 71 com condecoração.

No ano de 1869, Georg von Viebahn conheceu a sua futura esposa no estado alemão de Hesse. Cristina Ankersmit era a filha de um próspero comerciante holandês. No dia 14 de maio de 1872, o casamento ocorreu em Amsterdã. Juntamente, os dois examinaram diligentemente a Palavra de Deus. A sua esposa conheceu já em sua juventude cristãos na Inglaterra que se reuniam conforme a maneira dos primeiros cristãos ao Nome do Senhor Jesus. Também em Wiesbaden, localidade de sua primeira residência comum, se reuniam juntamente com um grupo desses irmãos, tendo o simples desejo de "perseverar na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações" (Atos 2:42).

Como capitão, Georg von Viebahn estava estacionado primeiramente em Wiesbaden até o ano de 1878, onde nasceram a sua filha mais velha Christa e três outros filhos. Em 1878, ele foi transferido para Hannover, onde recebeu a sua promoção a major em 1879. No final do ano de 1883, ele foi nomeado comandante da Escola Militar Real em Engers am Rhein. Foi ali, que em 3 de fevereiro de 1884 a sua esposa faleceu logo após o nascimento de seu sexto filho. Três anos mais tarde, Georg von Viebahn casou-se com Marie Ankersmit, a irmã mais nova de sua primeira esposa. Nesse casamento havia três filhos. No ano de 1888, Georg von Viebahn foi promovido a tenente coronel e transferido para Frankfurt am Main. Mais um ano depois, ele foi chamado na função de coronel e comandante de um regimento para Trier. A sua última estação foi Stettin; para lá foi transferido já major general e comandante de uma brigada de infantaria no ano de 1893.

Desde a sua juventude era o desejo desse homem sério servir também na sua profissão ao seu Senhor, a quem amava, confessá-Lo diante dos homens e encontrar irmãos que amavam e confessavam ao Senhor Jesus assim como ele. Foi especialmente afligido pelo fato que havia largamente leviandade e pobreza espiritual entre o corpo de oficiais do exército. Contudo tinha contato com alguns oficiais crentes como tenente coronel Curt von Knobelsdorff, que estava responsável pela prevenção do alcoolismo. Embora muitas vezes tivesse que suportar escárnios e zombarias quando confessava o seu Senhor, ainda assim tentou servir e ajudar aos seus colegas e subordinados em temor a Deus e com coragem de confessar o Senhor. Como comandante da escola militar, ele deixou escrever diversos versículos bíblicos nas paredes, como por exemplo: "Prepara-se o cavalo para o dia da batalha, porém do SENHOR vem a vitória" (Provérbios 21:31). A sua primeira obra maior e visível foi a fundação de um asilo cristão para soldados, que deixou construir durante o tempo de comandante de um regimento em Trier por conta dele mesmo. Um desejo especial de seu coração se voltou, porém, para a salvação dos centenas de milhares de jovens que anualmente foram integrados ao serviço militar obrigatório. Assim ele decidiu, confiante no Senhor, editar uma revista semanal de conteúdo evangelístico para distribuição entre as tropas que lhe eram subordinadas.

No dia 1 de outubro de 1895 apareceu numa edição de 5.000 exemplares o primeiro número da revista sob o título "Pregações para Soldados", a partir do segundo ano intitulado de "Testemunhos de um Velho Soldado aos seus Camaradas". Deus abençoou esses pequenos e silenciosos mensageiros, que durante o espaço de 21 anos cresceram a 1.100 números e uma edição final de 150.000 a 170.000 exemplares. Também fora do exército esses testemunhos foram espalhados em forma de folhetos e foram até mesmo traduzidos para diversos idiomas.

Depois que o Senhor lhe dera esse extenso ministério, a que se acrescentaram ainda várias viagens em serviço verbal no evangelho, mais e mais se ocupou com a pergunta, se deveria retirar-se por completo do exército, para dedicar toda a sua força ao serviço do Senhor. Além desse trabalho, já antes lhe veio à mente o pensamento se ele deveria renunciar a sua profissão de soldado na sua condição de um cristão que tinha consciência de sua posição e chamado celestiais. Na primavera do ano de 1896, Georg von Viebahn percebeu nitidamente que agora havia chegado o momento em que deveria retirar-se do exército. Depois desse passo importante, ainda continuou morando em Stettin.

Agora se colocaram mais tarefas diante de Georg von Viebahn. Começou, primeiramente em Berlim, e então também em outras cidades onde havia guarnições, a fazer pregações do evangelho para oficiais do exército grandemente abençoadas. A partir de 1899 publicou a revista "espada e Escudo" com o alvo de não somente levar a Palavra de Deus aos oficiais ainda longe de Deus, mas também exercer um ministério pastoral para aqueles que já eram crentes. Logo acrescentava a essa revista uma folhinha devocional que continha estudos sucintos seqüenciais. Essas folhinhas, porém, logo superaram a tiragem da própria revista "Espada e Escudo" devido ao fato que também foram lidas em muitas casas e famílias. Incansavelmente, Georg von Viebahn trabalhava na obra do Senhor no lugar que lhe foi dado. Quando estava de viagem para pregar o evangelho, estava ativo durante o dia no ministério verbal; de noite, quando os seus anfitriões dormiam, muitas vezes trabalhava ainda durante horas nas revistas. Além dessas, publicou ainda diversos escritos avulsos, principalmente sobre a prática da vida cristã, cujos mais conhecidos devem ser: "Noivado e Matrimônio dos Crentes à Luz da Palavra de Deus" e "O Matrimônio dos Crentes à Luz da Palavra de Deus". Digno de ser mencionado também é o escrito: "O que encontrei com cristãos que se reúnem somente ao Nome de Jesus" (de 1902) — resposta a uma série de artigos na revista "Sons do Sábado" voltada contra "J. N. Darby e a Igreja".

Georg von Viebahn também estava regularmente presente nas conferências de estudo bíblico dos irmãos em Elberfeld, Dillenburg e Berlim. Em uma dessas reuniões, certa vez interrompeu um irmão que estava aludindo afirmativamente a uma exposição dele e o chamava de "Senhor General", com voz gentil , porém alta e clara: "Deixe o General para trás, e faça o irmão marchar à frente!".

Ainda na idade avançada, Georg von Viebahn podia exercer o ministério no evangelho e edificação dos crentes com boa saúde e frescor de espírito. Até o final de sua vida ficava firme na sua confissão do caminho estreito da separação. Em seu coração nunca esqueceu aquilo que comprovava também em seu trabalho, que estava unido com todos os membros do Corpo de Cristo. O seu biógrafo Emil Dönges escreve: "Não podia ser evitado que parecia estreito demais para alguns crentes e liberal demais a outros". O seus próprios desejos e esforços eram ter um coração largo no caminho estreito e confirmá-lo na prática. Obviamente intencionado por esse desejo, participava sempre de novo nas conferências da aliança evangélica em Blankenburg — embora acontecessem num fundamento não bíblico, conforme ele próprio confessou —, mas pensava ter ali a oportunidade de saudar muitos cristãos como irmãos e poder servi-los com a preciosa Palavra de Deus. Quanto ao seu próprio posicionamento com respeito a aliança evangélica, ele escreveu em 1910 a um amigo:

"Não sou membro da aliança evangélica e, como confio, nunca o serei. Nunca vi a aliança evangélica, que se baseia em uma aliança de diversas igrejas e comunidades cristãs, como uma solução divina para a unidade desejada dos crentes. Reconheço que esses esforços produziram lá e cá bênção pela fidelidade daqueles que a apóiam, mas a aliança evangélica não tem base bíblica. Por isso não falo de aliança, mas sim da unidade do Corpo existente em Cristo em feita por Deus. Essa grande verdade da unidade do Corpo de Cristo, daquela uma comunidade ou assembléia de Jesus, é uma verdade desconhecida por muitos crentes, embora o Espírito Santo a tivesse novamente trazido à luz há mais ou menos 60 anos."

No decorrer dos anos, o Senhor abriu mais e mais as portas para Georg von Viebahn de poder servir na palavra para os crentes. Era um desejo especial seu de apresentar-lhes não apenas os sublimes privilégios na sua condição de filhos de Deus, mas também inculcar nos corações de tomar uma posição em contraste com os filhos desse mundo em piedade e num andar fiel. Também esse ministério não era em vão; por muitos tem sido reconhecido e produziu ricamente frutos.

Durante a Primeira Guerra Mundial em 1914 a 1918, dois filhos morreram na frente. Essas perdas atingiram bastante esse homem sentimental. Embora as suas forças estavam diminuindo, ainda acreditava que podia continuar o seu ministério. Porém, no ano de 1915, foi comprovado que estava seriamente  doente. No dia 15 de dezembro de 1915, o Senhor chamou o Seu servo para o descanso do povo de Deus. Georg von Viebahn foi sepultado ao lado de sua esposa em Engers. Muitos amigos e conhecidos presenciaram o culto funeral em Berlim; em Engers, o seu amigo Emil Dönges falou na capela do cemitério e Rudolf Brockhaus junto da sepultura do falecido.
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(1) Exame final do segundo grau nas escolas da Alemanha até hoje; pode ser comparado a um vestibular, pois o resultado desse exame determina a aptidão do aluno para poder cursar a universidade ou não — Nota do tradutor.


William Trotter

 
William Trotter
(1818 - 1865)

William Trotter pertencia aos primeiros irmãos em Yorkshire. Nasceu no ano de 1818. Já na idade de 12 anos, encontrou a paz com Deus pelo ministério de um pregador metodista, William Dawson (conhecido na região norte da Inglaterra como "Billy Dawson"). Começou a pregar na idade de 14 anos e com 19 anos foi instituído pregador da Comunidade Metodista Reformada. Inicialmente, trabalhava em Halifax, mais tarde em York. Ali o seu serviço foi para grande bênção; muitas pessoas vieram a crer. Porém, William Trotter começou já cedo a esbarrar em diversas coisas erradas na comunidade metodista. Por um lado havia a grande lacuna entre "clérigos" e "leigos", que aumentava cada vez mais. Cada vez com mais veemência também se reivindicava o reconhecimento de certas confissões de fé. Com vistas à vida prática, William Trotter se voltou especialmente contra a obsessão pelas riquezas, por outro lado também contra a forma organizada de caridade, e insistia em que cada crente pessoalmente é responsável por aquilo que o Senhor lhe confiara, para usá-lo em favor da família, dos irmãos e de todos os necessitados.

Enquanto William Trotter trabalhava visivelmente abençoado, entre outras coisas também durante um despertamento em Halifax, os líderes daquele grupo metodista decidiram transferi-lo para uma comunidade em Londres, que se encontrava em um estado de pobreza espiritual e cujo número de membros estava cada vez minguando mais. Ele, porém, não atendeu a essa "promoção", porque entrementes havia reconhecido como é terrível e contra as Escrituras os seres humanos colocarem-se entre o servo em seu trabalho e Deus. Por isso renunciou a seu ofício de pregador em Bradford.

No início da década dos 40 do século dezenove, ele teve contato com os irmãos e logo estava ativo na assembléia em Halifax. Conheceu a John Nelson Darby e se tornou um de seus amigos mais fiéis. Na questão de Bethesda estava firmemente de seu lado; o seu livreto "The Whole Case of Plymouth and Bethesda" ("O Caso Completo de Plymouth e Bethesda"; mais tarde o título foi mudado para "A Origem dos tais chamados Irmãos Abertos") se tornou famoso. Certa vez, William Trotter foi profundamente impressionado pelo que John Nelson Darby lhe disse: "O mistério da paz interior e da força exterior é ocupar-se com o bem, sim, sempre ocupar-se com aquilo que é bom".

Durante alguns anos, William Trotter era o editor da pequena revista "The Christian Brethren's Journal and Investigator", presumivelmente o sucessor da revista "The Christian Witness", (editado de 1849 a 1873 em Londres por G. V. Wigram). Contribuiu também com uma série de artigos para a revista conhecida, editada por William Kelly, "The Bible Treasury" ("O Tesouro da Bíblia"). William Trotter, porém, se tornou bem conhecido por meio de seus livros extraordinários sobre profecia "Eight Lectures on Prophecy" ("Oito Preleções sobre Profecia" ) e "Plain  Papers on  Prophetic Subjects" ("Escritos Simples e Claros sobre Assuntos Proféticos"). Dignos de serem considerados são também os seus "Cinco Cartas sobre Adoração e Ministério no Espírito", publicadas em português sob o título "O Espírito Santo operando na Igreja" (DLC — Depósito de Literatura Cristã, Diadema / SP — Brasil). Apareceram também na revista alemã "Botschafter des Heils in Christo" ("Mensageiro da Salvação em Cristo"), volume do ano 1867 sob o título "Pensamentos sobre o Culto e o Ofício do Espírito Santo". Já fizemos alusão a seu escrito sobre a origem dos "irmãos abertos".

O ministério de William Trotter foi apreciado por todos os lados. Era um homem amoroso, bondoso e meigo, e Deus podia lhe dar a sua confirmação. W. B. Neatby diz a respeito dele em sua "História dos Irmãos" que "todos que o conheciam, falavam dele com mais estima e apreço do que de quase qualquer outros irmãos dos 'irmãos de Plymouth'".

Na idade de 47 anos, no ano de 1865, William Trotter foi chamado ao lar. A sua morte, por muitos, foi considerada uma grande perda. Era, juntamente com Dr. Thomas Neatby, um dos poucos que vieram dos metodistas e ocuparam um lugar de destaque entre os irmãos.

Clarence Esme Stuart


Clarence Esme Stuart
(1828 - 1903)

Clarence Esme Stuart era descendente de uma família bastante respeitada e era o filho mais novo de William Stuart. Seu avô, de igual nome, William Stuart, era arcebispo de Armagh e teve a confiança especial do Rei George III. A família descendia de uma linha lateral da antiga casa real dos Stuart da Escócia. Alguns vêem em Clarence Esme Stuart até uma semelhança com Charles I. A sua mãe era uma das cortesãs da Rainha Adelaide enquanto essa era também Duquesa de Clarence. Ela era madrinha dele e por isso também portava o nome de Clarence.

Clarence Esme Stuart nasceu em 1828 em Sandy. Conforme a tradição da família, foi educado em Eton (um colégio famoso vizinho do castelo Windsor, sede da família real da Inglaterra e colégio de educação da alta nobreza inglesa). Depois foi ao Colégio St. John em Cambridge, onde terminou os seus estudos de literatura e teologia com o grau de MA (Master of Arts — mestre em ciências humanas).

A sua mãe, com amor, sempre havia indicado a necessidade da conversão a Clarence Esme Stuart. Por causa disso, ainda bastante jovem, já havia dado esse passo espiritual da morte para a vida. Desde então, tinha sempre um interesse especial nas coisas espirituais e teve aparentemente o intuito de ocupar um cargo eclesiástico na Igreja Anglicana — igreja a que pertencia a sua família. Porém, aparentemente uma grave falha de fala impedia isso, embora nunca fosse notável quando orava.

Depois de ter casado com uma filha do Coronel Cunninghame de Ayrshire, ele se estabeleceu em Reading. Ali se ocupava com atividades evangelísticas dentro da igreja. Entre outras coisas, promoveu a atividade da "British and Foreign Bible Society" ("Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira").

Por volta do ano de 1860, Clarence Esme Stuart ficou atento à posição daqueles cristãos que comumente eram chamados de "Irmãos de Plymouth", embora eles mesmo tivessem sempre rejeitado tal designação. Na cidade de Reading havia uma grande congregação, em cujo meio se encontrava também William Henry Dorman, anteriormente pregador oficial, que se chegara aos irmãos já em 1840. Por meio de sua influência, Clarence Esme Stuart logo se convenceu que a sua filiação à Igreja Anglicana era inaceitável. Sem muito alarido, ele ocupou o seu lugar na assembléia de Reading. Durante muitos anos permaneceu ali.

Mas já nos anos 1864 - 1866 a amizade entre William Henry Dorman e Clarence Esme Stuart foi duramente provada. John Nelson Darby tinha esteriorizado pensamentos sobre os sofrimentos de Cristo, que foram duramente criticados por W. H. Dorman, e postos no mesmo nível das doutrinas de Benjamin Wills Newton. Este também foi o motivo pelo qual se separou dos irmão. Clarence Esme Stuart, com seus conhecimentos profundos das línguas antigas, que podiam ser decisórias em questões doutrinárias assim tão difíceis, se colocou ao lado de John Nelson Darby. Até o falecimento desse, ele continuou em estreita comunhão com ele; era um dos irmãos que falavam na ocasião de seu enterro.

Sem dúvida, Clarence Esme Stuart fazia parte dos grandes mestres entre os irmãos. Publicou diversas dissertações e livros sobre questões críticas quanto ao texto bíblico tanto do Antigo como do Novo Testamento. Na área de interpretações críticas quanto ao texto grego do Novo Testamento, ele tendia mais à escola dos conhecidos crentes cultos de Tregelles do que aos de Scrivener.

C. E. Stuart era também colaborador constante da revista "Words in Season" ("Palavras a seu Tempo").

Escreveu uma série de estudos sobre os evangelhos de Marcos, Lucas e João, sobre os Atos dos Apóstolos e o livro dos Salmos. Vale a pena mencionar também os estudos sobre os sacrifícios, a Igreja de Deus e as relações do crente para com Deus. Uma das últimas dissertações de sua autoria portava o título: "Devemos seguir aos Críticos?". Nela, C. E. Stuart se posicionou contra as doutrinas da tal chamada "crítica superior" quanto ao Antigo Testamento. Demonstrava assim, que até o fim não precisava temer o confronto com os eruditos errantes de sua época. A sua biblioteca continha todas as obras principais modernas sobre ciências bíblicas, mas também algumas obras bastante antigas, entre elas uma edição da Poliglota Complutensiana (uma edição bíblica multilíngüe impressa em 1514 na Espanha que contém os textos em latim, grego e hebraico). Essa edição, ele doou à biblioteca de seu colégio quando tinha já uma idade avançada.

Como expositor das Escrituras, Clarence Esme Stuart sempre se apegava estreitamente ao texto sagrado, porque era plenamente convicto de sua inspiração verbal. Basicamente não atentava para fontes externas como as exposições dos "Pais da Igreja" ou ainda da teologia moderna. Devido a seu claro e neutro discernimento, ele representava e defendia com grande diligência as verdades redescobertas sobre a Igreja de Deus e os acontecimentos proféticos. À semelhança de Frederick William Grant, comentários doutrinários que iam um pouco além, causaram em 1885 uma precipitada separação entre os irmãos que podia ser sanada após algumas décadas. Em anos posteriores, C. E. Stuart pisou em terreno perigoso devido a comentários sobre a obra de redenção de Cristo, porque tentou detalhar a obra do Senhor de forma intelectual e queria explicá-la principalmente por meio das figuras do Antigo Testamento.

Clarence Esme Stuart era uma pessoa de grande simplicidade quanto a sua aparência. Por meio de seu jeito amável de ser, ele ganhou principalmente os corações dos "miseráveis do rebanho", pois era cheio de bondade para com eles. Era a alegria dele compartilhar com eles a luz que recebera. Ele pertence aqueles que, embora tenham morrido, ainda continuam falando. Foi chamado ao lar em 1903 na idade de 80 anos.
 

James Butler Stoney


James Butler Stoney
(1814 - 1897)

James Butler Stoney nasceu no dia 13 de maio de 1814 em Portland, no condado de Tipperary (Irlanda). Seu pai era um puritano severo. A família levava uma vida sossegada e sem preocupações. Todos os quatro filhos foram ensinados por professores particulares.

Na idade de 15 anos, James Butler Stoney, inteligente e dotado, foi freqüentar o famoso Trinity College em Dublin, onde se especializava nos idiomas clássicos e em direito. Embora tivesse sido alertado quanto à graça de Deus e à necessidade de uma conversão durante esse tempo, o jovem ambicioso e ocupado com diversões não encontrou tempo para analisar essa questão. Os seus pensamentos estavam voltados para o seu futuro êxito profissional como jurista.

No ano de 1831, em Dublin havia um surto de cólera. Também James Butler Stoney adoeceu. O seu primeiro pensamento então era: "Como posso me encontrar com um Deus santo?" Os seus sofrimentos de alma eram piores do que os físicos. Chamou um servo, para que esse fosse chamar o médico, e disse: "Thomas, acredito que devo morrer". Quando estava novamente sozinho, ele se lançou sobre o seu rosto e clamou àquele Deus, de quem já ouvira falar enquanto ainda era menino, e que havia aceitado até o maior dos pecadores, porque o Crucificado está à destra dEle. Quando o médico chegou, J. B. Stoney realmente estava exausto e parecia estar perto da morte, porém disse com bastante calma: "Jesus me receberá. Senhor Jesus, receba o meu espírito". Por meio de uma sono profundo e salutar, ele foi recomposto. Logo podia continuar os seus estudos, mas nascera de novo, para um mundo novo, para esperanças novas e uma vida nova. Decidiu renunciar ao estudo do direito, para de então em diante ser uma testemunha da graça de Deus em favor de pecadores perdidos.

Começou, então, a estudar teologia em Dublin, onde, nessa época, havia realmente professores excelentes. Na idade de 24 anos recebeu a ordenação de clérigo. A família dele se irritou bastante com isso. Um de seus tios não queria mais contato algum com ele, porque pensava que teria jogado fora os seus talentos naturais e perspectivas esperançosas por um salário de pastor.

Nos últimos quatro anos, James Butler Stoney estudara as Sagradas Escrituras com grande zelo. Reconheceu que todas as coisas visíveis são passageiras e que apenas as coisas invisíveis são eternas. Quando lia as epístolas de Paulo, descobriu que o próprio Senhor ressurreto e glorificado concede os dons para o serviço na Igreja, de forma que o crente em conformidade com a sua tarefa se torna ou um evangelista, um pastor ou mestre (instrutor) — veja Efésios 4. Por isso, J. B. Stoney não aguardava por uma colocação profissional de pastor, mas foi como evangelista pelos caminhos e valados, para indicar aos pecadores a grande salvação de Deus.

Já no ano de 1833, James Butler Stoney tivera contato com os irmãos que estavam se reunindo há alguns anos em Dublin, inicialmente numa residência particular em Fitzwilliam Square, n° 9 e desde o ano de 1830 num salão de leilões de um produtor de móveis em Aungier Street, n° 11. Num comunicado interessante datando do dia 12/07/1871 ele mesmo escreve sobre aqueles dias:

"Conheci os irmãos em 1833. Tive o ardente desejo de servir ao Senhor e tinha renunciado à carreira de jurista em favor de um estudo teológico. Pensei que isso fosse a única coisa certa. Inicialmente fui a Aungier Street com sentimentos de oposição. Sr. Clarke, um colega de estudos, me levava até ali. Ele era ali um assistente permanente...Finalmente cheguei a ter um grande interesse nos ensinos de lá. Lembro-me de forma especial de exposição do Sr. Darby sobre as palavras: 'agradáveis no amado' e do sr. Bellet sobre Marcos 7, mas ainda não pensei em juntar-me a eles...Ouvia constantemente o sr. Darby até que em certa ocasião falou sobre Josué 7: 'Por que estás prostrado assim sobre o teu rosto?...Levanta-te, santifica o povo...'. Primeiro o mal tem que ser removido. Deus não pode estar conosco, se não estivermos separados do mal. Foi então que desabei. Pela primeira vez ficou claro para mim que passo enorme é deixar a igreja do estado em favor de um pequeno grupo sem aparência em Aungier Street. Foi em junho de 1834. Pedi a sr. Darby de poder vir até que encontrasse algo melhor, porque não tinha plena certeza se ele estava certo, mas tive a convicção de que a Igreja Anglicana estava posicionada de forma errada. Durante aquele tempo, o sr. Stokes costumava ler a cada domingo um trecho das Sagradas Escrituras e em Plymouth, onde estive no ano de 1838, se costumava escalar de antemão quem havia de partir o pão e exercer atos públicos. Em setembro, participei numa reunião no castelo de Lady Powerscourt. O sr. John Synge teve a presidência. Sr. Synge pediu a todos um a após outro que falassem sobre um assunto determinado. O sr. Darby foi o último a falar, muitas vezes durante horas, e entrava em detalhes de todos os assuntos abordados anteriormente. Ao lado dele estavam sentados o sr. Wigram e Capitão Hall, sr. G. Curzon, Sir A. Campbell, sr. Bellet, sr. T. Maunsell, sr. Mahon, sr. E. Synge...As reuniões de oração às 7 da manhã me impressionaram de forma especial. Cada um orava, para que Deus lhes desse luz, mas também a graça de agir nos conformes...".

Depois de ter tomado o seu lugar permanente com os irmãos em 1834, James Butler Stoney continuou sendo um bom amigo de John Nelson Darby durante toda a sua vida e estava ligado intimamente a ele até à morte dele em 1882. Nas primeiras décadas trabalhava mais retirado. Escreveu artigos para diversas revistas, entre outras na década de 40 para "The Prospect" ("A Perspectiva"), cujo editor era William Kelly nos anos de 1849 a 1850. A partir de 1867, ele mesmo era editor da revista "A Voice to the Faithful" ("Uma Voz aos Fieis").

James Butler Stoney viajava muito e falava quase todos os dias em algum lugar. Ele tinha um jeito vivo e impressionante de falar, mas evitava cuidadosamente qualquer aparência de retórica. Era convicto de que o Espírito Santo é o verdadeiro e único poder nas coisas sagradas. O seu livro até traduzido para o alemão "A Educação na Escola de Deus" se tornou bastante conhecido.

Em contraste com os demais mestres do tempo do início, James Butler Stoney não enfatizava tanto o lado objetivo da verdade de Deus, mas mais o lado subjetivo da verdade, onde os sentimentos pessoais ocupam uma parte grande e por vezes há o perigo de pensamentos especulativos. Quanto a isso, quase se tornou um místico (a mística é uma forma especial de religiosidade, onde o ser humano procura chegar a uma comunhão profunda e íntima com Deus por meio de dedicação e meditação). Por isso ele se tornou inconscientemente o preparador de caminho para a aceitação das heresias de F. E. Raven, que esse começou a pregar por volta de 1890. Em 1890, isso levou a uma separação, e muitas assembléias locais na Inglaterra foram levadas por Raven inclusive os irmãos J. B. Stoney, C. H. Mackintosh e Dr. W. T. P. Wolston.

James Butler Stoney foi chamado ao lar no dia 1 de maio de 1897, pouco antes de seu aniversário de 83 anos. Já em outubro de 1895, ele estava preso a seu quarto por causa de uma doença séria. Até o fim continuou a sua alegria em Deus e faleceu tranqüilamente, falando dEle. Gostava de citar a estrofe de um hino:
'Tis the treasure I found in His love
that has made me a pilgrim below.'
('É o tesouro que encontrei em Seu amor,
que me fez ser um peregrino aqui em baixo.')

Charles Stanley

 
Charles Stanley
(1821 - 1890)

O evangelista Charles Stanley nasceu no ano 1821 num pequeno vilarejo no condado de Yorkshire. Já na idade de 4 anos ficou órfão e foi por isso criado por seu avô, um homem sincero. O rapaz queria saber de tudo e leu desde cedo muitas vezes na Bíblia, embora já tivesse que trabalhar nos campos na tenra idade de 7 anos, para ganhar o seu pão. Apenas nos invernos podia freqüentar a escola do vilarejo.Na idade de 11 anos, Charles Stanley foi recebido na casa de um homem nobre, que lhe deu durante dois anos uma educação escolar extraordinária. Essa não foi direcionada tanto para erudição senão para a aquisição de sabedorias práticas úteis na vida. Por ocasião da despedida, esse homem lhe confidenciou as seguintes palavras: "Charles, ou você se torna numa maldição ou numa bênção para a humanidade". O próprio Charles Stanley, mais tarde, disse que foi somente pela graça de Deus que aconteceu o último.

Já na idade de 12 anos, ele tinha um bom conhecimento da Palavra de Deus, embora ainda não tivesse convertido. Tentou melhorar a sua vida, mas não teve êxito. Certa noite, numa estrada molhada pela chuva, ele se jogou ao chão e exclamou: "Ó Senhor, não posso fazer mais nada!" Ele viu que era perdido. Foi então, que o Espírito de Deus mostrou à sua alma a obra completa de Cristo e ele O aceitou como o seu Salvador. Depois de sua conversão desejava de imediato conhecer outros cristãos. Porém, durante muito tempo não achava o certo: a comunhão dos santos em separação do mundo. Durante esse tempo, na cidade vizinha Laughton, um pequeno número de cristãos começou a se reunir e o ministério da Palavra estava correspondendo ao estado da alma do jovem Charles. Foi ali que ele pregou pela primeira vez em 1835 na idade de 14 anos quando o pregador esperado não apareceu em tempo. Ele falou sobre João 3:16; quando depois de mais de 40 anos voltou a esse vilarejo e falou com um homem, esse ainda se lembrou bem da passagem e da pregação.

Algum tempo após sua conversão, Charles Stanley foi a Sheffield onde começou a trabalhar numa loja de ferragens. O jovem aprendeu muitas coisas, porém não fazia progressos no conhecimento de assuntos divinos. Ele se esforçou a pregar fluentemente, mas, como ele mesmo afirmava mais tarde, não estava aprendendo.

Com 23 anos de idade ele já possuía a sua própria pequena loja. Foi nesse tempo, ouvindo uma pregação sobre Mateus 24, que ele descobriu quão pouco realmente sabia da Palavra de Deus. Começou diligentemente a examinar as Sagradas Escrituras e durante 18 meses se ocupou somente com a epístola aos Romanos! Durante o seu tempo livre, anunciava o evangelho. Foi então que ele conheceu um evangelista, Captain W., e entrou em contato com alguns irmãos que se reuniam no primeiro dia da semana, para, assim como os discípulos em Atos 20, partir o pão. Certo domingo de manhã foi até ali e encontrou reunido um pequeno grupo num recinto do primeiro andar de uma casa na Wellington Street em Sheffield. Não viu nenhum púlpito suntuoso, mas somente uma mesa coberta com uma toalha branca e em cima dela pão e vinho em memória da morte do Senhor Jesus. Também não viu nenhum presidente ou pregador; todos estavam sentados ao redor daquela mesa. Sentia que essas pessoas vieram, para encontrar o próprio Senhor. Foi tão impressionado por essa simples congregação, que chegou à conclusão: "Esse é o meu lugar, mesmo que seja somente a esteira de limpar pé desses cristãos". Algumas semanas mais tarde, também podia ocupar o seu lugar à Mesa do Senhor. Pouco tempo depois, certo domingo, ele fez uma experiência que nunca havia feito antes — a direção do Espírito Santo. Foi como se fosse um terno sussurro da parte do Senhor: "Leia 2 Coríntios 1". Pensamentos maravilhosos sobre os versículos 3 a 5 encheram o coração dele. Se sentia tão comovido, que o suor lhe escorria pelo rosto e corpo. Assim sentou ali, quieto; sentia o impulso, mas não tinha coragem. Finalmente, Captain W. se levantou, que sentava do outro lado do recinto, e expressou exatamente aqueles pensamentos, que o Espírito Santo havia colocado no coração de Charles Stanley. Mais tarde, durante toda a sua vida, essa direção divina havia de ocupar um lugar todo especial, como ele próprio escreve em sua auto-biografia "Como o Senhor me Tem Guiado".

Ainda sentia como conhecia pouco da Palavra de Deus, mas começou novamente a pregar a Palavra. Acontecia raras vezes que ele pregava sem que alguma alma se convertesse. Por vezes, ficou sabendo disso somente uns 10 ou 20 anos mais tarde. Durante anos viajou pela Inglaterra na sua função de representante comercial e, ao mesmo tempo, fazia a obra de um evangelista. É impossível definirmos de perto quantas almas encontraram a paz por meio do ministério dele. Nas ruas, em navios, no trem ou em festividades, em igrejas, salas-de-estar, cozinhas e fábricas, em teatros ou capelas — por todos os lados testificava do Senhor Jesus e por todos os lados almas foram salvas. Da grande quantidade de exemplos que relata em seu livro "Como o Senhor me conduziu", citaremos apenas o seguinte extraído do terceiro capítulo:

"Pouco tempo depois estive novamente em Hull e anunciei as boas novas. Após o almoço, estava sentado juntamente com o irmão A. J., quando recebi o chamado de pregar num barco a vapor. Comuniquei isso ao irmão J. 'Às duas horas sai um navio daqui, que geralmente fica cheio de pessoas voltando da feira', era a resposta dele. Tive a certeza de ter que pregar a bordo desse navio. Peguei a minha bolsa e o irmão J. me mostrou o caminho. Naqueles dias ainda não havia uma ponte de embarque e desembarque e, quando queria passar pela passarela móvel, a mesma deslizou e caiu na água. Tive a chance de me agarrar na beirada do navio e me puxaram a bordo. Em decorrência disso, havia bastante barulho e tumulto, e me puxaram de um lado para outro. Nessa situação levantei os meus olhares ao Senhor, para que me levantasse e me colocasse alguém de igual índole ao lado. Orando, passei pelo convés. O Senhor me mostrou um homem que acabara de se sentar. Sentei-me ao lado dele e perguntou-lhe, se ele era cristão. 'Sim, pela graça de Deus', ele respondeu. Então lhe perguntei: 'O senhor tem fé?' Contei-lhe, como Senhor me havia enviado, para pregara bordo, mas que me sentia tão fraco e por isso pedi por uma ajudante. Ele deu um salto e, com as palavras 'fé e obras' correu embora. Agora fiquei mais desanimado ainda. Como são estranhas as maneiras que o Senhor prepara os Seus mensageiros para o serviço dEle! Agora estava pequeno o suficiente, para que o Senhor pudesse me usar. Ai o homem voltou com o rosto irradiante de alegria. 'Podemos começar!', disse ele. 'O que pode começar?', perguntei-lhe. Explicou: 'Recebi a permissão do capitão e há algumas pessoas que querem cantar um hino.' Tirou o hino que foi cantada a toda força. Então o Senhor me deu a força de poder falar durante todo o trajeto. Nos diversos pontos de parada, sempre desembarcavam pessoas. Preguei a tarde toda até a noite. Naquele dia não sabia se alguma alma havia encontrado o Senhor. Muitos anos depois, quando já me esquecera basicamente por completo desse acontecimento, depois de uma reunião em Birmingham um senhor veio ao meu encontro e disse: 'Creio, que o senhor não me reconhece.' E foi assim. Então me perguntou: 'O senhor se lembra ainda da pregação de 20 milhas de comprimento?' — 'Também não', respondi. 'Pois bem, está lembrado da pregação de Hull a Thorne, lugares que distam em torno de 20 milhas um do outro?'

Então me lembrei dos detalhes. Ele, um pregador metodista, era a pessoa que me ajudara tão gentilmente naquela ocasião. Ele me contou que esteve em várias cidades e diversos vilarejos ao longo do rio onde o vapor havia parado. Tinha encontrado almas ao longo de todo o rio que foram salvas naquele dia. Assim o Senhor, muitas vezes, depois de muitos dias, dá a prova de que a Sua Palavra não volta vazia. Oh, que alegria é pregar com a certeza de que almas estão sendo salvas."

Embora Charles Stanley inicialmente tivesse pouco dinheiro à disposição e tivesse de cuidar de uma grande família, ele conseguiu empregar grande parte de seu tempo no evangelho. O Senhor lhe ajudou de maneira maravilhosa. A grande bênção, que pousava sobre o seu trabalho, sem dúvida era uma conseqüência de sua dependência dEle e de sua forte fé na direção dEle. Sempre de novo, o Senhor lhe revelava que devia ir a um certo lugar, onde nunca antes estivera, e ele foi pela fé, e o Senhor tirava todos os empecilhos de seu caminho.

O maior tempo de sua vida, Charles Stanley morava em Rotherham. Foi ali que escreveu centenas de folhetos evangelísticos. Os mais conhecidos eram os "folhetos de trem" ("Railway tracts"). Um irmão lhe deu a idéia de escrever as suas muitas experiências, para que o Senhor pudesse usá-las para bênção de outros. Charles Stanley não podia nem sonhar naquele momento, que mais tarde seriam impressos em muitos idiomas e que seriam amplamente divulgados. Também publicou outras séries de folhetos no decorrer dos anos. O folheto mais conhecido deve ser aquele sobre Mefibosete (2 Samuel 9). Charles Stanley também escreveu várias redações para crentes de conteúdo edificante e encorajador, que mais tarde foram publicados como "Escritos Seletos" em dois volumes ("Selected Writings of Charles Stanley"). Além disso escreveu pequenos estudos sobre o início e os princípios da Igreja ("The First Years of Christianity" — "Os Primeiros Anos do Cristianismo") e sobre a epístola aos Romanos. De 1880 a 1890, Charles Stanley era o editor da revista "Things New and Old" ("Coisas Novas e Velhas"). Foi chamado ao lar no dia 30 de março de 1890.

domingo, 28 de agosto de 2011

Samuel Ridout

 
Samuel Ridout
(1855 - 1930)

Samuel Ridou nasceu no dia 23 de outubro em Annapolis, Maryland, EUA. O pai dele, Dr. Samuel Ridout, faleceu um ano depois do nascimento de seu filho e sua mãe, Anne Ridout, quatro anos depois disso. O jovem Samuel, órfão então, foi recebido por seu avô que cuidava dele e o guiou rumo ao seu futuro caminho na vida. Mais tarde Samuel Ridout se referia a esse homem piedoso e temente a Deus, sempre com grande estima. Muitas vezes se lembrou o quanto ele devia a este pela educação na disciplina e exortação do Senhor.

Até a idade de 12 anos passou a sua infância em Annapolis. Depois freqüentou uma escola na Pennsylvania, mais tarde o colégio St. John em Annapolis, onde fez o exame final com 18 anos. Durante esse período o seu estado de saúde deu razão à uma séria preocupação. Devido a essa circunstância foi o melhor para ele que se tornasse marinheiro. Dessa forma ele ingressou na marinha dos Estados Unidos e serviu no navio "Alaska" comandado então pelo capitão Carter. Capitão Carter era um bom amigo da família e o jovem cadete foi ordenado a serviço pessoal do capitão. Depois de ter servido em torno de uns três anos, a esposa do capitão Carter faleceu na Europa, enquanto o navio de seu marido estava patrulhando o Mar Mediterrâneo. Samuel Ridout recebeu ordens de cuidar do traslado do corpo aos Estados Unidos. Assim voltou aos EUA e se despediu da marinha. Agora tinha mais ou menos 22 anos.

Durante os três anos de marinheiro, ele teve sérios exercícios de alma. Procurou a comunhão de cristãos sempre quando teve a oportunidade. Nos portos assistiu as diversas reuniões cristãs. Nesse tempo também perdeu a sua única irmã. Por meio da morte dela, os seus exercícios chegaram a um final bom, pois mostrava mais e mais interesse pelas coisas do Senhor e de Sua obra. Durante um pequeno período ele era então professor na região de minérios na parte oeste de Maryland. Trabalhava ali entre muitas pessoas pobres e que tinham pouca escolaridade. Também ali havia muitas dificuldades e provações, o que com certeza contribuiu para que ele desenvolvesse as características que o destacavam mais tarde e fizeram com que fosse uma pessoa amada. Já durante esse período ele utilizou as suas férias, para, na condição de vendedor ambulante, passar de casa em casa pelas regiões montanhosas dos estados da Virgínia e de Maryland.

Devagar se evidenciou mais claramente a sua evolução futura. Encorajado pelo avô temente a Deus, Samuel Ridout decidiu cursar teologia no seminário de Princeton. Também ali fez uso de diversas férias, para evangelizar na Pennsylvania. Quando terminou os estudos em 1880, recebeu um chamado a Baltimore onde ficou por um ano.

Durante esse tempo ele teve o contato de alguns crentes que se reuniam em separação dos sistemas religiosos. Novamente teve profundas aflições em sua alma quanto ao caminho que devia andar agora. Porém, ele reconheceu que o caminho seguido por esses irmãos correspondia aos princípios da Palavra de Deus em sua maneira de se reunir para culto e ministério da Palavra. Assim, acompanhado de grandes sacrifícios pessoais, ele se separou da igreja presbiteriana, para trilhar o caminho uma vez reconhecido como o caminho da fé para os filhos de Deus. Era convicto disso. Foi recebido à comunhão pelos irmãos que se reuniam naqueles dias em Baltimore e ocupou com bastante humildade o seu lugar. Aguardava pelo Senhor, para que lhe abrisse o caminho de servir aos crentes por meio da Palavra de Deus. Em momento algum pensava ter um direito especial de reconhecimento da parte de seus irmãos por causa de sua posição anterior. Trabalhou por um salário de 30 dólares mensais (naqueles dias muito mais do que hoje) como empregado da companhia de ferro Baltimore-Ohio, e nas horas vagas deu aulas.

Já após um breve tempo a sua presença e ministério na igreja local se mostrou ser uma grande bênção. O seu dom especial que lhe fora conferido por Cristo, cabeça da Igreja, logo foi reconhecido e apreciado. No ano de 1883, ele se casou com Anna Elisabeth Newark. Em Baltimore, nasceram três filhos. No ano de 1903, Samuel Ridout se mudou com a sua família para Boyertown na Pennsylvania, de onde ele mudou para Plainfield em New Jersey em 1912.

Durante mais que 40 anos serviu nas igrejas na Palavra de Deus. Como editor da revista mensal "Help and Food" ("Auxílio e Alimento") ele era o sucessor de seu amigo Frederick William Grant, 21 anos mais velho que ele. Também ajudou a esse último na edição da "Numerical Bible". Foi ele que juntou as passagens paralelas a acrescentou algumas notas de rodapé muito preciosas. Durante décadas publicou revistas para escola dominical e tarefas para o ensino bíblico. Também a editora "Bible Truth Depot" apreciou bastante a ajuda e o conselho dele.

Além dessas tarefas diversas, ele empreendeu algumas viagens longas entre os oceanos pacífico e atlântico, para servir aos filhos de Deus e anunciar o evangelho. Com todo esse trabalho, a continuação e conservação dos princípios da verdade quanto à Igreja de Deus, o caminho e testemunho dela neste mundo lhe pesavam no coração. Fez tudo isso sem evidenciar jamais orgulho espiritual ou uma mente sectária. Fez tudo com um coração aberto para todos os verdadeiros filhos de Deus e cheio de amor por eles. Com zelo persistente cuidou, para que o lugar que, segundo a sua convicção, era o único lugar em meio aos erros e à confusão de nossos dias, não fosse enfraquecido nem prejudicado seja por meio das palavras dele ou por seus atos.

Nos últimos três anos não tinha mais forças suficientes para fazer longas viagens. A não ser as suas visitas na redondeza, exerceu o seu ministério somente em Plainfield e morava ali com o seu filho Seth. Em meados de novembro de 1929, teve uma grave ataque cardíaco, que se repetiu ainda algumas vezes nas semanas que se seguiam. Embora estivesse fraco, ainda assim participou nesses dias de diversas reuniões e conferências bíblicas servindo com a Palavra. No dia 22 de fevereiro de 1930 dormiu tranqüilamente no Senhor, a quem servira tanto tempo e a quem se apegara com tanto amor.

De seus estudos sobre assuntos bíblicos vale a pena mencionar o seu livro sobre o tabernáculo ("Lectures on the Tabernacle"), sobre os livros de Juízes e Rute, sobre o Rei Saul, Jó e a Pessoa e a Obra do Espírito Santo, sobre a Igreja e sua Ordem Segundo a Escritura. Esses livros de Samuel Ridout, na América do Norte têm sido sempre reeditados até hoje e serviram de bênção a muitos crentes.


Julius Anton Eugen von Poseck

 
Julius Anton Eugen von Poseck
(1816 - 1896)

Julius Anton Eugen von Poseck procede de uma família nobre da Saxônia, que parcialmente havia se tornado católica no século 18. O pai dele, porém, era casado com uma mulher protestante da Pomerânia. Dessa forma, todos os seis filhos foram batizados da maneira evangélica luterana; também Julius Anton von Poseck, que nasceu em 2 de setembro de 1816 em Zirkwitz (Pomerânia). No ano seguinte, os pais dele se mudaram para a Westfâlia. Ao contrário de seus irmãos e irmãs, Julius Anton foi educado na fé católica — talvez porque o pai dele desejava, que seu filho se tornasse sacerdote seguindo uma antiga tradição da família.

Depois de ter cursado o ginásio em Duisburg, a partir de 1836 Julius Anton von Poseck se dedicou ao estudo de teologia católica em Münster, porém parou e iniciou em 1838 a faculdade de direito em Berlim, continuando esses estudos mais tarde em Bonn. Enquanto estudante em Bonn, Julius Anton von Poseck estava entre os espectadores das festividades por ocasião do 600° aniversário da Catedral da Sé de Colônia aguardando ansiosamente pela grande procissão. Por alguma razão ele deixou a sua excelente posição, que foi tomada imediatamente por uma jovem (conforme um outro relato foi um jovem). Logo em seguida, despencou uma grande pedra da fachada da catedral, matando a menina (ou o rapaz). Julius Anton von Poseck foi tão abalado por esse acontecimento, que foi imediatamente para casa, caiu de joelhos e exclamou: "Ó Deus, por que eu fui poupado? Por que uma outra pessoa havia de morrer?" Essa experiência levou à conversão dele. A sua irmã, de fé evangélica luterana, convidou-o a ouvir as pregações do pastor luterano Krafft em Düsseldorf, onde a família morava naquela época. Por meio dessas pregações, pouco tempo depois, alcançou a plena segurança da salvação.

No ano de 1843, ele conseguiu uma colocação como candidato a um cargo administrativo no governo estadual em Düsseldorf. Foi ali que ele teve algum contato com os escritos de John Nelson Darby e com alguns cristãos que se encontravam para o estudo da Bíblia. No ano de 1846 encontrou o suíço Heinrich Thorens e no ano 1848 o irmão mais velho de John Nelson Darby, William Darby, morando com esse até na mesma casa. Esses irmãos desenvolviam bastante entusiasmo na difusão da Palavra de Deus e dos escritos de John Nelson Darby. J. A. von Poseck apreendeu as verdades contidas neles com grande alegria, renunciou ao seu cargo (então estava trabalhando numa editora de um jornal) e se dedicou integralmente ao serviço do Senhor. Juntamente com William Darby realizou reuniões em Benrath, Hilden, Haan, Ohligs, Rheydt e Kettwig. Nessas reuniões se oferecia os escritos de John Nelson Darby gratuitamente para distribuição — "tanto quanto podia-se levar nos bolsos". J. A. von Poseck pessoalmente havia traduzido parte desses escritos e assim colocou a base de sua futura atividade de escritor. Já no ano de 1849, a editora E. Schulte de Düsseldorf publicou, entre outras coisas, os seguintes escritos: "Preleções sobre o Profeta Daniel" traduzido a partir do francês, "Os Ofícios do Novo Testamento — o seu Caráter, Fonte, Poder e Responsabilidade" traduzido do inglês, "Uma breve Análise do Apocalipse" e, no ano de 1850: "O Mundo e a Igreja" de J. N. Darby, "Pensamentos sobre o Apostolado de Paulo", "A Personalidade do Consolador" e "Sobre os Sofrimentos de Cristo" de J. N. Darby. A partir de 1853, boa parte desses escritos foram impressos no "Mensageiro da Salvação em Cristo". J. A. von Poseck começou na primavera de 1852 a tradução dos volumes da "Sinopse" de J. N. Darby sobre o Novo Testamento e os publicou sob o título "Estudos sobre a Palavra de Deus" por conta própria. A partir de 1855, a editora Carl Brockhaus de Elberfeld os publicou. No ano 1853, quando J. A. von Poseck já havia conhecido Carl Brockhaus, ele também criou um pequeno hinário, cujo alvo era suprir a necessidade de ter hinos mais adequados para a adoração. Inicialmente continha somente 16 hinos. Já a segunda edição de 1856, editado por ele mesmo em Hilden, continha o bem conhecido hino de sua autoria (número 78 do hinário "Pequena Coletânia de Hinos Espirituais"; número 26 do hinário português "Hinos Espirituais"):

A minha alma no Cordeiro
pode agora descansar! Todos, todos meus pecados
o Seu sangue dissipou.
O que ocasionou Julius Anton von Poseck a escrever esse hino foi algo estranho que lhe ocorreu quando numa visita à igreja do convento de Essen-Werder no início da década dos anos 50, quando viu uma escultura de um cordeiro no alto da torre. A explicação que lhe foi dada era a seguinte: Há muitos anos, um telhadista estava consertando o telhado da torre, quando, de repente, o gancho em que a sua escada estava fixa, quebrou. Caiu daquela altura, porém, como por um milagre, caiu bem em cima de uma pequena ovelha que estava pastando no pé da torre. Ela foi esmagada pelo peso do homem caído em cima dela, mas ele permaneceu vivo. Cheio de gratidão pela proteção, ele deixou fazer uma escultura de pedra daquele cordeiro e colocar na parede da torre. — Outros hinos da autoria de J. A. von Poseck são os números seguintes da "Pequena Coletânia de Hinos Espirituais": 36, 56, 92, 101, 105, 110 e 117, enquanto alguns outros hinos dele foram inseridos com algumas modificações textuais. Os hinos 67 e 98 da autoria de John Nelson Darby foram traduzidos por ele ao alemão.

No ano de 1854 mudou-se para Barmen, onde iniciou a tradução do Novo Testamento em conjunto com Carl Brockhaus e J. N. Darby. Foi desse trabalho que se originou a chamada "Bíblia de Elberfeld". O cargo principal desse trabalho pesava inicialmente sobre J. A. von Poseck. A semelhança de J. N. Darby, também ele havia aprendido os idiomas antigos e assim podia passar as propostas de tradução de J. N. Darby para um alemão mais fluente.

No ano de 1856, J. A. von Poseck se mudou para Hilden e em 1857 de lá para a Inglaterra, onde se casou com uma inglesa ainda no mesmo ano. A filha única deles, Helen, trabalhou durante muitos anos como missionária na China.

Na Inglaterra, J. A. von Poseck trabalhou como professor de línguas, dedicou, porém, a sua força e o seu tempo principalmente à obra do Senhor e era um confidente íntimo de J. N. Darby. Diversas obras testemunham das suas atividades, por exemplo "Green Pastures and Still Water" ("Pastos Verdejantes e Águas Tranqüilas") e "Light in our Dwellings" ("Luz em nossas Habitações", um estudo sobre a epístola aos Efésios, capítulos 5:21 a 6:9). Durante o tempo que se seguia, J. A. von Poseck manteve constantemente vivas as suas ligações com os seus irmãos na Alemanha. Nas dificuldades dos anos 1881/1882, tentou auxiliar aos seus irmãos com inteligência espiritual por meio do escrito "Cristo ou Park-Street" ("Park-Street" = endereço de um salão de reuniões em Londres). A partir de Londres, mais tarde, publicou a revista mensal "Palavras de Verdade em Amor" e visitou por diversas vezes os amigos que lhe ainda restavam na Alemanha.

No dia 6 de julho de 1896 ele foi chamado ao lar em Lewisham perto de Londres, poucos meses depois de sua esposa. Uma das últimas coisas que expressou ainda antes de sua falecimento era: "Senhor, Tu estás pronto para mim e eu estou pronto para Ti. Louvado seja o Senhor!".

Georg Müller


Georg Müller(1805-1898)
O bem conhecido "Pai dos Órfãos de Bristol" nasceu no dia 27 de setembro de 1805 em Kroppenstedt perto de Halberstadt. O seu pai mimou a ele e o irmão dele de tal forma que Georg se tornou um mentiroso, caloteiro e até mesmo beberrão, e isso já no tempo de sua meninice. Depois de ter vivido na sua juventude totalmente sem Deus e no caos, ele havia de estudar teologia protestante conforme a vontade de seu pai. Durante os seus estudos em Halle / Saale, ele tinha o seu primeiro encontro profundo com a misericórdia de Deus em uma reunião caseira de crentes, para qual foi convidado por um amigo de estudos. A sua vida, então, mudou de uma vez; agora orava muito, lia a Palavra de Deus e amava aos discípulos de Jesus dos quais antes escarnecia.

Logo despertou nesse recém nascido de novo o desejo de servir ao Senhor no campo missionário. Porém, haviam de passar ainda alguns anos, antes que chegasse, na primavera de 1829, a Londres por meio do Professor Tholuck, para ali ser instruído na "Sociedade para a Missão Judaica". Durante uma estadia para lazer na cidade de Teignmouth, ele chegou a conhecer Henry Craik, que durante muitos anos havia de ser o seu amigo e colaborador. Tanto Henry Craik como Georg Müller tinham Anthony Norris Groves em alta estima. O entendimento desse o fortaleciam no propósito de sujeitar completamente as circunstâncias de sua vida à vontade de Deus. Por isso, algum tempo depois de sua volta a Londres, Georg Müller expressou o seu desejo de trabalhar sem salário regular diante daquela sociedade missionária — e isso quando e onde o Senhor lho mostraria. Recebeu uma resposta negativa, porém gentil e assim, no final do ano de 1829, ele desatou os seus laços. No início do ano de 1830 ele estava outra vez em Teignmouth e decidiu ficar ali na condição de pregador de uma pequena comunidade batista. No verão desse ano, por meio do estudo da Palavra de Deus, ele chegou a convicção, que seria em conformidade com as Escrituras partir o pão a cada primeiro dia da semana, e conceder a todos os irmãos a possibilidade de usarem os dons dados por Cristo no ministério da Palavra. Quando chegou a completar 25 anos de idade, decidiu de nunca mais aceitar uma salário fixo, mas de confiar somente no cuidado de Deus. Numa congregação de 18 membros, isso não era uma decisão fácil.

No dia 7 de outubro de 1830, Georg Müller se casou com Mary Groves, irmã de Anthony Norris Groves. Durante 40 anos, ela se tornou a sua fiel acompanhante no seu caminho.

No mês de abril do ano de 1832, Henry Craik convidou a Georg Müller de vir a Bristol e ajudá-lo ali no trabalho do evangelho. Georg Müller foi, e juntamente os dois voltaram a Teignmouth, para examinar com calma diante do Senhor, para onde iria o seu futuro caminho. Depois de muitas orações e um exame aprofundado diante do Senhor, ambos deixaram Teignmouth para sempre e mudaram-se para Bristol em maio de 1832. Ali, Henry Craik assumiu o ministério na capela "Gideão" e Georg Müller na maior, porém vazia capela "Bethesda". Ali esforçaram-se a praticar a verdade reconhecida. Quando no dia 13 de agosto de 1832, à noite, Müller, Craik, um outro irmão e mais 4 irmãs haviam se reunido de maneira simples, Georg Müller escreveu em seu diário, que isso aconteceu "sem estatuto algum, somente com o desejo de agir conforme agradaria ao Senhor, dar-nos luz por meio de Sua Palavra".

Embora essa comunidade mantivesse ainda algumas características eclesiásticas, ainda assim aprovava os princípios já realizados por irmãos em outras localidades. Em primeiro lugar estavam a autoridade da Palavra de Deus e a separação do mundo. A cada domingo partiram o pão e por ocasião da pregação da Palavra, todos se colocaram sob a direção do Espírito Santo, embora Georg Müller e Henry Craik estivessem conhecidos como líderes espirituais e pregadores da pequena assembléia. Ambos, porém, não eram pregadores empregados e não recebiam salário fixo. No mês de outubro de 1832, John Nelson Darby fazia ali uma primeira visita. Ele se refere a ela numa carta que data do dia 15 de outubro: "Pregamos em ambas as capelas. O Senhor está operando ali uma obra notável e, assim espero, os nossos amados irmãos M. e C. serão ricamente abençoados ali. Desejaria apenas que o princípio da comunhão aberta fosse mais observado".*

Naqueles anos, o trabalho em Bristol foi ricamente abençoado. O pequeno grupo de salvos cresceu em pouco tempo tão rapidamente, que as duas assembléias, unidas no ano 1837, se compuseram de 668 pessoas no ano 1844.

O estado social deplorável em Bristol deu muito trabalho a Georg Müller. Embora possuísse apenas poucos recursos e não tivesse alguma renda regular, deu tudo que tinha aos pobres. Em 1833, começou a ir de manhã cedo às ruas, para chamar a si crianças pobres. A todos deu um pedaço de pão e as instruiu em seguida, durante mais ou menos uma hora, na Bíblia e na leitura. Mais tarde, fazia o mesmo com adultos.

No ano 1834 fundou, juntamente com Henry Craik, a "Instituição para a Propagação do Conhecimento das Escrituras na Inglaterra e no Exterior", cuja finalidade era a fundação de escolas cristãs, a divulgação das Sagradas Escrituras e o apoio à missão com base na fé. Essas obras só deviam ter funcionários salvos e não devia-se receber dinheiro da parte de incrédulos nem fazer empréstimos. Sem capital inicial algum, essa obra foi iniciada pela fé. Porém, no início do ano de 1835, a instituição já estava com cinco escolas funcionando.

No final do ano 1835, Georg Müller decidiu fundar um orfanato conforme o modelo dos orfanatos de Francke em Halle. Já no abril de 1836 estava em condições de receber os primeiros órfãos. Assim se iniciou o "milagre de Bristol", que se expandiu tanto ao ponto de se tornar um enorme empreendimento com 2.000 crianças em cinco grandes casas. Desde o início, Georg Müller tomou por princípio duas coisas: 1 — Nunca pediria ajuda a homem algum, mas somente a seu Deus e Pai. 2 — Nunca comunicaria a uma pessoa externa a sua atual situação financeira, independente de que grandeza fosse a necessidade. Era o seu propósito de não apenas ajudar aos órfãos, mas também fortalecer a fé dos filhos de Deus e mostrar aos incrédulos que Deus até mesmo hoje ainda ouve orações. A fé de Georg Müller foi ricamente recompensada. Logo entraram tantas doações que rapidamente podia construir uma segunda e um ano mais tarde uma terceira casa. Nunca precisou de desviar de seus princípios, nem ele nem os seus colaboradores, embora a necessidade anual de dinheiro fosse finalmente 30.000,00 libras esterlinas! Deus, a Quem só comunicaram as suas necessidades, nunca os abandonou. As experiências de fé feitas por Georg Müller durante os 65 anos, em que podia se ocupar com essa obra, enchem livros inteiros.

Havia as pessoas que pouco compreensíveis inquiriam a Georg Müller quanto as suas orações maravilhosamente atendidas. Ele lhes mostrava cinco pontos de como se aproximar de Deus:

1    — Confiança plena na obra e mediação do Senhor Jesus como base de nossa
           aproximação a Deus.
2    — Separação de qualquer pecado consciente.
3    — Fé na palavra da promessa de Deus.
4    — Pedir conforme a Sua vontade, i.e. tendo motivos espirituais e não para
           consumirmos aquilo que pedimos em nossas concupiscências.
5    — Persistir na oração, no esperar e na perseverança.

Georg Müller tinha uma visão clara para a interligação entre a oração e uma vida em santidade e se esforçava sempre de novo a demonstrar esse importante princípio tanto em palavra como por escrito.

Parece que Georg Müller fez diversas visitas no continente e também na Alemanha por volta do ano de 1840. Mais ou menos em 1841, uma senhora alemã procedente do estado de Württemberg o visitou. Ele lhe deu os primeiros dois volumes de seu diário já impresso em inglês. A leitura desses volumes se tornou no impulso de sua conversão e ela tinha o desejo de traduzi-los para o alemão. Em Stuttgart, ela encontrou uma pequena congregação batista, onde foi batizada e recebida como membro. Em maio de 1843, ela convidou Georg Müller para uma visita a Stuttgart. Depois de o Senhor ter resolvido também o lado financeiro dessa viagem por meio de uma doação generosa, Georg Müller e sua esposa foram à Alemanha no mês de agosto de 1843 e ali ficou até março do ano conseguinte. Imediatamente recebeu a oportunidade da parte da congregação batista de Stuttgart de pregar tanto aos domingos como em todos os dias da semana. O seu ministério doutrinário, porém, não foi bem recebido por todos os membros daquela congregação. Quando no dia 3 de setembro chegou outra vez a ocasião de se celebrar a Ceia do Senhor, um grupo liderado pelo presbítero Schauffler pensava que Georg Müller não podia participar da Ceia enquanto um outro grupo desejava ter comunhão com ele. Embora Georg Müller tentasse sinceramente evitar um cisma da congregação por causa dessa questão, uma divisão foi inevitável. Na noite desse mesmo dia, 17 pessoas celebraram a Ceia do Senhor numa residência particular, entre elas dois irmãos suíços, dos quais Georg Müller escreveu que conheceram o caminho da verdade por meio de nosso irmãos John Nelson Darby. Assim surgiu no sul da Alemanha um ajuntamento na condição de Igreja com base bíblica por meio dessa divisão. Georg Müller justificava a divisão dizendo que aquela congregação batista seguia princípios sectários por ligar o batismo ao novo nascimento e por recusar comunhão com todos os salvos que tivessem recebido "o batismo da fé".

Georg Müller se dedicou, então, completamente ao serviço no meio desse pequeno grupo. Foi difícil para eles, acostumados como eram como o ofício do pregador, se submeter a livre operação do Espírito Santo, Que faz uso de quem Ele quer. A cada domingo se partiu o pão. No fim de sua estadia, a congregação havia crescido para 25 pessoas. Nesse meio tempo, Georg Müller distribuiu folhetos e falava com as pessoas que encontrava. Também completou e publicou a tradução de sua monografia. No ano 1845, ele visitou mais uma vez a congregação em Stuttgart, porque ouvira que teriam surgido doutrinas falsas entre eles.

O trabalho dos orfanatos, enquanto isso, fazia constante progresso. No ano 1849, as quatro casas até então alugadas foram deixadas e se mudou para uma casa própria em Ashley Down. Durante esse tempo, receberam 275 crianças. No dia 12 de novembro de 1857 abriu-se a segunda casa para mais 400 órfãos. A terceira casa abriu as portas no dia 12 de março de 1862. Então, no horizonte da fé de Georg Müller já se via as casas números 4 e 5 surgirem que realmente puderam ser abertas em 5 de novembro de 1868 e 6 de janeiro de 1870. Os orfanatos, agora, ofereceram abrigo para 2.000 órfãos e para todos os auxiliares e professores.

Em janeiro de 1866 faleceu Henry Craik, colaborador de Georg Müller durante 34 anos. Então, no dia 6 de fevereiro de 1870, faleceu também a sua amada esposa. Mais ou menos um ano e meio depois, a sua filha Lydia casou-se com o seu colaborador James Wright, que também se tornou o sucessor de Georg Müller no trabalho com os órfãos. O próprio Georg Müller, pouco depois, casou-se pela segunda vez, a saber com Susanne Grace Sanger já conhecida por ele há 25 anos como uma mulher temente a Deus.

Na velhice, Georg Müller ainda começou a viajar bastante. As suas viagens missionárias preencheram a tarde de sua vida nos anos 1875 a 1892. As viagens o levaram à Europa, Ásia, América, África e Austrália. Durante essas viagens teve a oportunidade de trazer o claro e simples evangelho a muitas almas, a conduzir recém-convertidos à segurança da salvação e instruí-las no uso correto das Sagradas Escrituras. Também podia apresentar às almas o verdadeiro amor fraternal, genuína fé e a esperança da volta do Senhor bem como a separação do mundo.

A força de sua vida abençoada estava na sua simples fé em Deus e em Sua Palavra. Ele amava essa Palavra e não a lia apenas em certas circunstâncias, mas em toda e qualquer oportunidade que se lhe oferecia. Ele agiu em conformidade com ela e sempre a achou confirmada em toda a sua longa vida. As doações que entraram durante a sua vida como respostas às suas orações a favor do trabalho com os órfãos, chegaram a somar bem mais do que um milhão de libras esterlina. Além disso, recebeu quase 400.000,00 libras de doações para a distribuição de Bíblias e folhetos bem como para o sustento de sua obra missionária.

Costumava dizer muitas vezes: "Sou um homem feliz". Ele se considerava um pecador merecedor do inferno, mas que chegou a conhecer o Senhor Jesus como o "seu Salvador digno de ser adorado". No último domingo de sua vida estava intimamente ocupado com a alegria de vê-Lo em Sua beleza e de adorá-Lo em perfeição.

Cedo de manhã, no dia 10 de março de 1898, Georg Müller foi, repentinamente, chamado para o lar eterno. Ainda no dia anterior estivera ocupado e, à noite, participara, como de costume, da reunião de oração. A sua morte foi inesperada e sem dores, como em "uma instante". Quando se abriu o seu testamento, foi verificado que toda a sua fortuna se constituía em 60,00 libras mais o mobiliário de seu apartamento.

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*Alguns anos mais tarde, o contrário era o caso. No ano de 1848, a congregação de Bethesda, debaixo da liderança de Georg Müller e Henry Craik, se tornou o motivo conhecido e triste de uma divisão entre os irmãos, porque ali não reconheciam que "por ensinar heresias em Plymouth ou em outro lugar, nós como congregação somos obrigados a examiná-las" (extraído da comumente chamada "Carta dos Dez", em que a assembléia em Bristol expôs os seus princípios". — Mais detalhes podem ser obtidos por meio do livro "Os irmãos (como são chamados)", por Andrew Miller e publicado pela editora DLC - Depósito de Literatura Cristã, Diadema / SP.

Andrew Miller

 
Andrew Miller
(1810-1883)

Andrew Miller era natural do vilarejo de Kilmaurs, Ayrshire (Escócia) onde nasceu em 27 de janeiro de 1810. Ainda jovem, ele entrou na empresa Smith, Anderson & Co. em Glasgow, cuja filial em Londres ele veio a gerenciar. Mais tarde, essa empresa trocou de nome para Miller, Son & Torrance. O seu filho, Thomas B. Miller, igualmente um servo do Senhor, o seguiu na liderança dessa empresa.
 
Ainda durante o seu tempo na diretoria de sua grande empresa, ele chegou a ser por um bom tempo pregador leigo em uma comunidade batista escocesa em Londres. Foi ele quem deixou construir a capela. Quando estava em Londres, pregava nessa sua capela, porém a metade de seu tempo estava ocupado em ajudar em ações evangelísticas em várias regiões do país.
 
Conforme um relato do próprio Andrew Miller, nessa época ele foi convidado por um cristão de assistir uma reunião de estudo bíblico, que acontecia semanalmente na casa desse irmão. Ele aceitou o convite, mas, por ser esse tipo de reunião completamente desconhecido por ele, foi vestido de smoking. Descobriu, então, assustando que foi ele o único visitante vestido dessa forma! Inicialmente, todos foram à sala de jantar, e em seguida aconteceu o estudo da Palavra na sala de estar. Depois da oração, leu-se, com toda a reverência, uma passagem das Sagradas Escrituras e seguiu uma conversa bastante cativante, em cujo decorrer se explicava as verdades da Bíblia.
 
Andrew Miller descobriu, que todas essas verdades ainda lhe eram completamente desconhecidas; esqueceu a sua vestimenta fora do normal e decidiu de visitar também o próximo estudo, caso o anfitrião o convidasse outra vez. Assim aconteceu, e enquanto freqüentava semana após semana esses estudos, aprendeu mais e mais da maravilhosa verdade de Deus, dos Seus desígnios e dos Seus amor e graça na redenção.
 
Assim chegou ao ponto que certo domingo nos anos 1852 ou 1853 declarou à sua comunidade, que não podia mais continuar a ser o pregador deles. A partir da semana seguinte, ele queria se reunir exclusivamente com aqueles que reconheciam e desejavam praticar os princípios bíblicos com respeito a se reunir no Nome do Senhor Jesus. A maior parte de sua comunidade voltou no próximo domingo, para se reunir desde então em separação do mal na base da unidade do Corpo de Cristo. A partir dessa época, Andrew Miller começou a ocupar um lugar cada vez mais estimado entre os irmãos com os quais agora era um.
 
Ele era um evangelista com um coração cheio de amor aos perdidos e para muitas almas idosas e jovens se tornou a ferramenta da conversão delas. Raras vezes anunciou o evangelho sem que lágrimas corressem por seu rosto, enquanto falava do amor do Senhor Jesus , tentando despertar as consciências de seus ouvintes. Foi bastante desgostoso para ele ver, quão pouco interesse pelo evangelho havia nas igrejas locais que visitava.
 
Por outro lado, Andrew Miller, na sua condição de orador altamente dotado, também conseguia prender os seus ouvintes crentes de tal forma, que eram capazes de ouvir as suas pregações por um espaço de tempo extremamente prolongado sem que cansassem. Por isso ele foi chamado por muitos de "o pregador mais dotado entre os irmãos mais antigos".

Andrew Miller era amigo de C. H. Mackintosh e em conjunto com esse irmão publicou, a partir do ano 1858, durante muitos anos a revista mensal "Things New and Old" ("Coisas Novas e Velhas"). Nessas revistas, quer serviam de bênção para muitos, a verdade para os crentes foi explicada e exposta de maneira simples e clara, e ao mesmo tempo também de maneira minuciosa e carinhosa. Era também Andrew Miller que encorajou C. H. Mackintosh a escrever as suas "Notas sobre o Pentateuco" (editado em português pela editora, "DLC — Depósito de Literatura Cristã", www.literaturacrista.com.br). Ele mesmo escreveu um prefácio a essa obra e financiou em grande parte a impressão.
 
A mais conhecida obra de Andrew Miller é provavelmente a "História da Igreja", já traduzido para o alemão em 1888 e cuja tradução para a língua portuguesa está em andamento por meio da editora "DLC — Depósito de Literatura Cristã". Igualmente escreveu uma breve panorâmica sobre a origem, e desenvolvimento e o testemunho dos cristãos geralmente denominados de "Irmãos" (editado em português pela editora "DLC — Depósito de Literatura Cristã" em 2005). Também são conhecidos os seus estudos sobre o Cântico dos Cânticos e sobre os salmos 23 e 84.
 
Andrew Miller também era amigo de John Nelson Darby. Quando esse último estava já em seu leito de morte, Andrew Miller estava seriamente doente e se encontrava em Bournemouth. Diariamente John Nelson Darby se informou do bem-estar de Andrew Miller. Aproximadamente um ano mais tarde, no dia 8 de maio de 1883, também Andrew Miller entrou no lar, para estar com o seu Senhor. Havia trabalhado muito para Ele e, antes de seu fim, ainda sofreu muito. Quando, no final de sua vida, relembrou o passado, contemplou o presente e viu o futuro diante de si, exclamou com bastante ênfase da profundeza de sua alma: "Não há nada que conte senão Cristo somente!"


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